ACHADOS HISTÓRICOS DE MINEIROS DO TIETÊ

 

Heusner Grael Tablas e Nelson Natal Botura

CAPA: Antonio Carlos Rampazzo - Artista plástico premiado nos salões de arte contemporânea de Jundiaí, Sorocaba, Limeira, Santo André, São Bernardo do Campo e Atibaia. Vem também realizando constantes exposições de suas obras como poeta. Publicou os livros Cores Noturnas e Atalhos, Trilhas, Traços. É natural de Mineiros do Tietê.

"Uma idéia morta produz mais fanatismo que uma idéia viva." Leonardo Sciáscia

PARTE I

FORMAÇÃO HISTÓRICA E CULTURAL

HEUSNER GRAEL TABLAS

Prêmios e Obras do Autor:

  • "A Pousada Alegre dos Dous Córregos". Roswitha Kempf. Editores, em 1987. 1° Prêmio CEPAM, da Secretaria de Estado dos Negócios do Interior (SP).
  • “Estação de Capituba" Antologia "Conto Paulista", co-edição SE
    NAC/ Edit. e Livr. Escrita, em 1983.
  • "Barbatimão". Antologia "4° Concurso de Contos", São Bernardo do Campo, em 1984.
  • "Arroz de Soqueira" - Antologia "A Nova Literatura Brasileira 1983", edit. Shogun Arte, Rio de Janeiro.
  • "O Poço" Antologia "III Concurso de Contos Paulista", promoção e edição SENAC (Santos) /Dow Química, 1986.
  • "O Causo da Menina do Ouro" – 1º lugar no conc. de contos "Caixa Econômica do Estado de S. Paulo", em 1979.
  • "O Unhudo da Pedra Branca” – 1º lugar no concurso - histórias que o povo conta”. Promoção MOBRAL, em 1977.
  • "Serra D' água" Livro de poemas, Menção Honrosa pela União Bras. de Escritores (RJ), em 1971.
  • "Anga" Conto, Menção Honrosa no "V Prêmio Nova Friburgo de Literatura", em 1982.
  • "Água Sumida" - Conto publicado pela Sociedade Brasileira de Língua e Literatura (RJ), Revista nº. 8, 1981.

NELSON NATAL BOTURA

Nascido em Mineiros do Tietê em 24/12/1965, fez seus primeiros estudos nessa cidade, diplomando-se como Técnico de Contabilidade pela Academia Horácio Berlinck de Jaú. Funcionário do BANESPA/SANTANDER. Fez parte da diretoria do Grêmio Recreativo dos 200, ambos de Mineiros do Tietê. Formado em jornalismo em 1990 pela UNESP. Para as pesquisas deste livro, colheu materiais no Arquivo do Estado em São Paulo; no Cartório de Registro Civil de Mineiros do Tietê, na Prefeitura Municipal e na Câmara Municipal de Mineiros do Tietê.

AGRADECEMOS A:

Wanderley dos Santos; Antonio Sérgio Santilli; Antonio Tavares Bueno; Dayse de Oliveira Leme; Euclides Rodrigues de Souza; Evaristo Romano; Gerson Luciano; Haldumont Nobre Ferraz; Hamilton Silva; José Cyro Chiaramonte; José Leopoldo de Barros Nogueira; Juvenal de Oliveira Leme; Luiz Antonio dos Santos; Marcílio Rissi; Maria Dorotéa Moreira; Maria Consuelo Figueiredo; Maria Isabel Mariano Pinto; Maria José Perez; Maria Teresa Zugliani Toniato Marisa Aparecida Santilli; Miguel Ângelo Napolitano; Pe. Milton Antonio Vendrametto; José Carlos Napolitano; Osvaldo Henrique Vendramini; Paschoal Liziero; Paulo Roberto Castro; Pedro Cipola; Roberto Delmiro da Silva; Arlindo Pinheiro AIves; Robson Fe1ipe; Sinésio de Oliveira Leme; Julia Cassilha Peres; Henrique Pacheco de AImeida Prado.

LINHAS GERAIS

O Brasil deve aos paulistas a sua grande extensão territorial. Se não fosse por eles o rio Paranapanema, por exemplo, seria uma das fronteiras nacionais. Mas todo um vasto território, que teoricamente deveria pertencer ao reino espanhol, foi sendo freqüentado pelos bandeirantes, de modo que, quando aconteceu à demarcação das divisas, os países vizinhos tiveram de aceitar como sendo brasileiras as terras desbravadas pelos paulistas. Nelas os homens de São Paulo tinham fundado povoações, construído caminhos ou deixado outros sinais de posse. E o território nacional ganhou então a dimensão de um continente.

É interessante notar que esse povo andejo e guerreiro, sem similar na geografia humana brasileira, por ter surgido do cruzamento entre o Europeu Ibérico (que lhe deu malícia e atualidade) e mulheres indígenas (do índio veio o conhecimento profundo da vida nas florestas), acostumou-se a povoar terras que estavam a mais de mil quilômetros distantes de sua vila de origem, mas esperou três séculos para começar o desbravamento das enormes áreas florestais a cobrir sua própria Província (Estado).

Em nossa região, por exemplo, só por volta de 1839 seria fundada a primeira povoação, a atual cidade de Brotas, naquele tempo, considerada "boca de sertão". A palavra sertão, é bom lembrar, era o nome que se dava às grandes extensões de matas ainda não povoadas pelo homem branco. E Brotas seria, portanto, o último local razoavelmente civilizado antes de se entrar na imensa floresta que cobria todo o lado oeste de São Paulo.

Depois de ocupar as terras brotenses, a migração pioneira ultrapassou os contrafortes da serra de Brotas e iniciou o desbravamento de terras mais ricas, onde hoje se acham os municípios de Mineiros do Tietê, Dois Córregos, Barra Bonita e Jaú. Ao mesmo tempo eram poseadas as áreas situadas na margem direita do rio Jacaré - Pepira, nos atuais municípios de Boa Esperança do Sul, Ribeirão Bonito, Dourado e Bocaina. Mas vejamos por que o desbravamento demorou tanto tempo para alcançar a nossa região.

Na época do descobrimento do Brasil, Portugal era pouco povoado em relação aos demais países europeus. Para poder ocupar um território imenso como o brasileiro, a Coroa portuguesa decidiu ocidentalizar os indígenas, já que não tinha homens disponíveis para enviar como moradores às terras recém-descobertas. Aos jesuítas cabia um papel importante no aculturamento, através da catequese, preparando os índios para assumir sua condição de súditos da Coroa. Desse modo estava proibido escravizar índios, o que impediria sua ocidentalização.

Mas os indígenas tinham como tradição o gosto pela ociosidade e a guerra. Detestavam, portanto o trabalho. Jamais entenderam o conceito ocidental de propriedade e não competiam pela posse de riquezas, mostrando-se inaptos à ocidentalização.

Foram, porém extremamente úteis: supriram à falta de mulheres brancas, o que provocou a miscigenação das raças; transmitiram aos brancos toda a técnica de sobrevivência na floresta tropical; ajudaram na defesa da vila de São Paulo contra os índios inimigos; e influenciaram de um modo geral, os ibéricos que para aqui vieram, surgindo dessa soma de culturas o povo bandeirante antigo, quando até mesmo alguns rituais indígenas, como o benzimento à distância, foram adotados pelos católicos estabelecidos nas terras paulistas.

Os constantes ataques de índios selvagens à vila de São Paulo, deram aos brancos a desculpa que precisavam para escravizar os índios: declararam uma "guerra justa"; era a forma que encontraram para suprir a falta de mão-de-obra em suas lavouras. No ano de 1602 foi formada uma grande expedição, sob o comando de Nicolau Barreto, que desceu o rio Tietê para aprisionar índios. Essa expedição foi certamente a primeira a passar pelas águas que banham o município de Mineiros do Tietê. Atacaram missões jesuíticas espanholas no Guairá, perto da fronteira do Paraguai, tirando dessas missões muitos indígenas guaranis que trouxeram como escravos.

A partir daí os paulistas não mais deixaram de armar bandeiras em busca de índios no sul do continente. Era mais fácil tirá-Ios de missões do que procurar índios nas florestas paulistas. Lá eles existiam aos milhares, em aldeias fixas, e já iniciadas no costume do trabalho. Durante cerca de dois séculos os paulistas forneceram mão-de-obra indígena aos engenhos de açúcar do nordeste, e era esse o principal meio de vida da gente de São Paulo: capturar índios.

Com as descobertas de ouro em Minas Gerais (1694), Cuiabá (1718) e Goiás (1720), os paulistas mudaram de profissão: da escravização de índios, passaram à mineração. Desse modo as terras paulistas continuavam despovoadas, pois seus, melhores homens não deixavam de partir, já então em busca de metais preciosos. Minas Gerais, portanto, foi povoada por famílias paulistas que lá se estabeleceram e muitas delas jamais retomariam a São Paulo.

Depois das descobertas de ouro em Cuiabá e Goiás, os paulistas passaram a procurar um caminho mais curto que os levasse a esses lugares, pois descer o rio Tietê por inteiro já se mostrava difícil. Um dos caminhos abertos foi aquele que margeava a serra de Brotas, o que possibilitou o surgimento de postos de apoio aos viajantes, como a fazenda Araraquara, a suprir com grãos e carne as expedições que seguiam para as zonas de mineração. Traçando-se uma linha imaginária que ia de Piracicaba até Araraquara, ao longo dessa linha, no final do século XVIII, o Governo distribuiu títulos de terra, chamados "sesmarias”, como forma de premiar os cidadãos ilustres e também para povoar o caminho das minas, suprindo assim as expedições. As sesmarias, no entanto, foram doadas igualmente nas margens do Tietê, que não deixou de ser navegado.

Depois da instalação de um posto aduaneiro próximo do rio Mogi Guaçu, onde havia um caminho ainda mais perto para Cuiabá e Goiás, a passagem pelo pé da serra de Brotas foi proibida. As expedições eram obrigadas a passar pela aduana do Mogi, para que a Coroa pudesse cobrar seus quintos do ouro extraído. E o caminho da serra de Brotas passou a ser rota de contrabando, principalmente por pessoas de Itu.

Mas com a decadência do ouro de superfície em Minas Gerais, os mineiros passaram a migrar para as terras férteis de São Paulo. Essa longa migração mineira, que se iniciou no final do século XVIII e somente terminou no início do século XX, foi a responsável pela fundação de cerca de 100 cidades no interior de São Paulo, entre elas Mineiros do Tietê.

A super povoação do sul de Minas, com suas terras totalmente tomadas e a preço elevado, marginalizou uma grande parte da população mineira que então safa à procura de terras de graça (devolutas) ou mesmo de posses a preços baixos nas margens dos sertões paulistas. Esses migrantes mineiros, em sua maioria, eram descendentes de paulistas que antes tinham ido povoar Minas Gerais, mas agora voltavam; por isso mesmo recebiam o apelido carinhoso de "mineiros de torna-viagem". Somente nesta região, as cidades de Brotas, Dois Córregos, Mineiros do Tietê e Jaú, foram fundadas graças à vinda desses mineiros.

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