ACHADOS HISTÓRICOS DE MINEIROS DO TIETÊ

 

A SESMARIA DO BANHARÃO

Em nossa região, uma das finalidades da distribuição das glebas de sesmarias, era a de povoar os caminhos que levavam às zonas de mineração. O caminho que,

(8) Francisco José de Lacerda e Almeida. 'Diário de Navegação' Topografia de Costa Silveira. São Paulo. 1841.

saindo de Piracicaba, margeava a serra de Brotas e seguia em direção a Araraquara, cujo destino final seria as minas de Cuiabá e Goiás, foi, portanto ponto de referência para a concessão dessas glebas a agricultores, muito embora a sesmaria. fosse geralmente doada como prêmio aos bandeirantes ou a pessoas de influência na corte.

Como o rio Tietê servia de caminho às minas, houve doações de sesmarias principalmente em sua margem direita. Uma dessas sesmarias foi aquela doada a Antônio Antunes Cardia, no "ribeirão dos Lençoens" (certamente o ribeirão Três Barrasl, que atingiria terras de Jaú e Mineiros do Tietê). O livro "Almanack do Jahú"(9 faz referências à sesmaria do Banharão):

"O café começou a ser cultivado no Jahú em 1846, por Vicente da Costa Machado, que da preciosa rubiácia plantou 5.000 pés na Sesmaria do Banharão, no local em que depois se estabeleceu o finado José Botelho de Carvalho."

Um dos estudiosos das terras de sesmarias nesta região é o historiador Henrique Pacheco de Almeida Prado, que também deduz ter sido a sesmaria de Antônio Antunes Cardia a famosa sesmaria do Banharão. Outras duas sesmarias podem ser citadas como doações feitas a esta região: a de Francisco Peixoto de Souza Maxado, medindo "3 quartos de légoa de testada com légoa, quarto de sertão", quando ele "requereu que no sertão das margens do Rio Tietê, descendo por ele a direita 6 dias de viagem da vila de Porto Feliz, se acha terras devolutas acima da sesmaria do Alferes Joaquim Barboza Neves".

Mas essas sesmarias, mesmo tendo cumprido o objetivo do Governo, ocuparam mínimas terras e colaboraram muito pouco para povoar esta região. Até mesmo a povoação de Potunduva, que se iniciou no começo do século XIX, durou apenas cerca de 20 anos, sendo abandonada pelos moradores nos primeiros meses de 1820. Ela possuía uma pequena população de remadores, gente afeita à navegação, que teve de se mudar premida pelo constante declínio da navegação no rio Tietê.

Além disso, os homens de Potunduva viviam a lutar contra os xavantes, vizinhos bastante incômodos. Os migrantes mineiros, que começaram a chegar à década de 1830, foram, portanto os principais responsáveis pela ocupação das terras de Brotas, Dois Cônegos, Mineiros do Tietê, Barra Bonita e Jaú.

Mas os paulistas vinham quase simultaneamente, dividindo as posses com os D1ineiros, tanto que as relações do Censo Demográfico de 1850, do Distrito de Brotas (Arquivo do Estado, Pasta de Piracicaba), mostram que a gente de São Paulo já representa a maior parte da população desse Distrito naquela época.

(9). Almanact do Jaú', Editado pelo 'Correio de Jaú', Autores Nilo mencionado. 1902. Pagina 94.

(10), Uvro de Sesmarial, Patentca e Provisões, o' 41. Anoa: 1811 a 1821. Poiba lSO-verão.

A EXPEDIÇAO POVOADORA MINEIROS DO TIETÊ

O tenente Manoel Joaquim Lopes comandou uma expedição saída de Alfenas, Minas Gerais, em busca de terras devolutas. Depois de passarem o grande campo hoje denominado Campo Alegre, tiveram de abrir uma picada numa densa mata de barbatimão, no lugar onde hoje é o município de Brotas. Um dos lugares em que houve pousada foi na margem do rio do Quinca (ribeirão do Peixe), que corta a atual cidade de Dois Córregos no bairro urbano denominado Barra Funda. Seguindo em frente, o comboio finalmente decidiu possear às áreas jauenses, com solo de terra roxa.

Depois de escolhidas as terras onde se estabeleceria o tenente Manoel Joaquim Lopes retomou a Alfenas, para buscar as famílias. Durante esse retomo passaram novamente pela picada feita na mata de barbatimão, já toda com brotas; daí, sempre que tinham de se referir àquele lugar, chamavam-no de "Brotas", palavra que veio a nomear o município do mesmo nome.

Quando voltaram com destino a Jaú, era bem maior o número de componentes desse segundo comboio. Os elogios à boa qualidade da terra fizeram com que também aderissem mineiros de Santana do Sapuca1, Caldas de Minas, além de outras pessoas de Alfenas. Coube ao tenente Lopes. como chefe das duas expedições, dividir as terras de Mineiros e Jaú a seus comandados. Correia de medo, bisavô de dona Alice Dias de Almeida Lima (l1) (ela nos prestou este depoimento de tradição oral), foi um dos que resolveram ficar em Mineiros do Tietê, onde também o tenente Lopes posseou terras.

Esses comboios mineiros foram bastante comuns até por volta do ano de 1910, vindo em busca de terras em São Paulo. Os burros geralmente traziam dois jacás pendidos sobre os lombos. Num deles vinham às roupas, ferramentas, pratos, panelas e colchões vazios; no outro jacá costumavam viajarem velhos e crianças menores. Para se abrigar das chuvas, usavam grandes pedaços de couro de boi. .

Se verificarmos o levantamento cartorário sobre a fazenda Gavião, no próximo capítulo deste livro, notaremos que em 1841 o tenente Lopes já era proprietário de terras em Mineiros. Se considerarmos também que em nenhum momento o depoimento de dona Alice menciona a existência da povoação de Brotas durante a passagem das expedições, nesse caso teremos de aceitar que o comboio passou por Brotas antes de sua existência - em data anterior a 1839.

E a maior prova de que tenente Lopes e seus companheiros foram os primeiros a possearem as terras de Mineiros, são também os levantamentos cartorários mostrados no capítulo que virá a seguir. Além de ter sido o maior proprietário de terras em

(11) Alice Dias de AImeida LIma nasceu em 12-10-1903 em Mineiros professora aposentada e viúva de Lupércio de Lima residente em Dois Córregos.

Mineiro. As escrituras do tenente Lopes mostram que ele as posseou em primeiro lugar. Era dono da fazenda Gavião, fazenda Ribeirão São João, e da fazenda Ribeirão Silvério, onde, mais tarde, já com inúmeros condôminos, seria fundada a povoação de Mineiros do Tietê.

Devemos considerar, porém, que boa parte dos primeiros posseiros, gente simples e acomodada, não aproveitaram a Lei de Terras de 1850, deixando de registrar suas posses para não se incomodar com a burocracia. Como exemplo podemos citar o caso de José Antunes Ribeiro; diz dona Alice que a mando do tenente Lopes, José Antunes Ribeiro tomou posse das terras que ficariam conhecidas como "bairro dos Antunes., hoje pertencentes a Jaú, localizadas em local bem próximo a Mineiros do Tietê. No levantamento cartorário, contudo, seu nome jamais aparece.

TERRAS POSSEADAS POR TENENTE LOPES E SUA GENTE

O objetivo deste capítulo é relacionar os pioneiros, aqueles que foram os primeiros a ocupar as terras de Mineiros do Tietê. Além de essas escrituras mencionarem pessoas que participaram do comboio de tenente Lopes, mencionam ainda outras que vieram depois daquela expedição, mas que já não podemos distinguir como tal.

Essas escrituras foram lavradas depois de 1850, ano em que saiu a Lei de Terras. Não é o caso, aqui, de valorizarmos os nomes das fazendas. Elas mudam de denominação a cada parte desmembrada e já perderam suas características iniciais. Importam isto sim, os nomes dos pioneiros.

Este levantamento cartorário foi realizado pelo historiador piracicabano Haldumont Nobre Perfaz, a pedido deste autor. Haldumont vem a ser descendente de Brás Cubas, fundador de Santos. Seu bisavô, coronel Horácio de Almeida Nobre, foi grande proprietário de terras no bairro de Ventania, em Dois Córregos, e político influente. E este livro seria pequeno para enumerarmos todas as atuações de Haldumont Nobre Ferraz na Capital paulista, em Piracicaba e agora também em Mineiros, através desta importante contribuição.

Fazenda Ribeirão Silvério, depois Mineiros, ou Ribeirão São João (Com terras hoje no município e cidade de Mineiros).
Pertenceu por posse ao tenente Manoel Joaquim Lopes e sua mulher Úrsula Pedroso Rangel, que de gleba maior venderam a metade Francisco Gomes de Lima (tendo-a este registrado em 1856 com o nome de (Ribeirão Silvério), e a outra metade a João Correia de Meio e Feliciano Lopes Pinheiro). Por sucessivas transmissões a vários títulos, ampliou-se a comunhão, que em 1894 contava com 130 condôminos, entre os quais Ângelo Martins Pereira, João José Ferreira, Adolfo Ribeiro dos Santos, Alexandre Cestásio, Antônio Dalsecco, Antônio Ferreira Thiago, João Correia de Meio, Joaquim Dutra Lopes, Luís Mota, Alípio Correia Leite, José Romão de Melo e muitos outros, incluindo o patrimônio da cidade de Mineiros do Tietê. Confrontava com terras de João Caetano da Silva, Manuel Joaquim Lopes, João Correia de Meio e com outros, citando-se o córrego Silvério.
O patrimônio da cidade foi formado por doações a Igreja feitas nos anos de 1884, 1887 e 1896, passadas pelos condôminos Vicente Valério dos Santos, Fernando Antonio de Oliveira e sua mulher, José Joaquim de Gouvêa e sua mulher, e vários outros, compreendendo 22 alqueires.
Fazenda Banharão e Três Barras. (Hoje em terras de Mineiros do Tietê e Barra Bonita). Constituindo uma só fazenda, pertenceu mais recentemente a Antônio Augusto de Almeida Cardia (casado com dona Ana Cardia) e seu irmão José Emidio de Almeida Cardia. Esses dois irmãos, que já possuíam a fazenda desde antes de 1883, teriam adquirido mais uma gleba vizinha pertencente a Floriano de Camargo Serra, em data posterior a 1884. Por morte de José Emídio, houve em 1891 acordo entre sua viúva, dona Carolina Augusta do Amaral Cardia e o cunhado, dividindo-se a propriedade de maneira a ficar para este o setor Três Barras, e para a viúva a parte denominada Banharão. Pela linha então estabelecida, a divisa começava na margem direita do Tietê na barra do ribeirão Banharão, subia por este e pelo seu galho que atravessava o pasto da fazenda Três Barras, até encontrar terras de José Antônio Botelho e pela divisa deste, até o Tietê. Dessa forma, o Banharão era o atual ribeirão Três Barras, tendo este nome o seu galho ou afluente da direita.

FAZENDA SANTA CRUZ

Pertenceu a Delfino Pinheiro de Ulhoa Cintra e sua mulher Angélica Florença de Ulhoa Cintra, os quais a deram em 1884 em garantia hipotecária por empréstimo tomado ao Banco de Crédito Real de São Paulo. Confrontava então com terras de Floriano Camargo Serra, Francisco Paula Cruz e irmão, Joaquim José de Campos, José Antônio Martins, Joaquim Alves de Souza, José Antônio Costa Machado e filhos e José Francisco Citroso. Possuía 19 escravos. Citava-se a Serra do Banharão.
Fazenda Ribeirão de São João.
Primeira posse de João Caetano da Silva, que a registrou em 1856. Por falecimento de sua mulher, Maria Jacinta da Silva, foi à parte desta partilhada pelos filhos do casal. João Caetano da Silva fez diversas alienações de sua menção, casando-se em seguida, em segundas núpcias, com Emerenciana Umbelina de Moraes. Falecendo João Caetano da Silva em 1867, houve nova partilha, entrando para a comunhão a viúva e posteriormente o seu novo marido, João Lopes de Oliveira, os quais venderam em 1886 a parte que possuía na fazenda a Francisco Te6filo de Almeida, parte essa adquirida em 1889 por José Francisco de Matos, já então figurando na comunhão, entre outros, Luís Correia de Meio, João Augusto da Silva, José Franco de Oliveira, Femando Antônio de Oliveira Costa, Delfino Pinheiro de Ulhôa Cintra, Porfirio José de Azevedo. (Um dos compradores de partes de João Caetano da Silva podia ter sido Francisco Correia de Meio, que em 1855 registrou uma gleba sob o nome de Ribeirão São João). Confrontava com terras de Francisco Gomes de Lima, Felizardo de Oliveira Preto, Manuel Correia, Martiniano Carlos de Souza e com o patrimônio da freguesia de Mineiros, depois Mineiros do Tietê.

RIBEIRÃO SÃO JOÃO OU CAMPOS
(Hoje em terras de Mineiros do Tietê e Dois Córregos).

Pertenceu a Serafim da Costa Machado e sua mulher Ana Rita de Assis Xavier, passando destes por permuta em. 1864 a Ana Fernandes Barbosa, Paulino Leme de Araújo (casado com Ana Maria de Campos), Marcela de Campos e Joaquim José de Campos. Alargou-se posteriormente a comunhão, para a qual entraram vários títulos: José Francisco de Matos, ten.José Valentino Borges, José Onofre da Silva, José Cândido Ribeiro, Miguel Francisco Soares, João Alves Pinheiro, Antônio Manuel Moraes, Merenciano Joaquim Vieira, Evaristo Alves Pereira e outros, somando cerca de 40 condôminos em 1897. Confrontava com terras de João Caetano da Silva, Antônio Carlos de Souza, Joaquim Lourenço, Francisco Gomes de Lima e com outros, citando-se os córregos Estiva, Veado e Borralho, Córrego do Campo.

Pertenceu como primeiro posseiro a João Vieira de Souza, que a registrou em 1855 com o nome de Córrego do Campo e depois a vendeu a Francisco de Paula Assis, e este, em 1880, a metade a João Costa e Silva, de cuja metade uma parte foi alienada a João Ventura Lopes de Oliveira e Joaquim Lopes de Oliveira, passando depois, por compra, a João Rodrigues de Lima. Confrontava com o rio Tietê, com espigões e águas vertentes. Fazia-se referência ao córrego do Campo. Gavião (Em terras hoje de Mineiros do Tietê e Dois Córregos).

Pertenceu ao tenente Manuel Joaquim Lopes e sua mulher, Úrsula Pedroso Rangel, que a venderam em 1841 a Feliciano Leite, tendo este feito o registro em 1856 na par6quia de Brotas (s6 encontramos o registro feito por José Joaquim Leite, sob o título de C6rrego do Gavião). Por morte de Feliciano Leite e de sua mulher, foi à fazenda partilhada, cabendo uma quota ao filho Manuel Leite, casado com Domiciana de Tal; falecendo estes, passou aos filhos, entre os quais dona Maria, casada com Francisco Teotônio de Oliveira, que venderam sua Legítima, em 1874, a João Pedro Pereira, que foi sucedido pelos herdeiros, sendo um deles José Carolino de Matos, cuja quota passou por compra a Francisco de Oliveira Matosinhos. Houve outras transmissões e sucessões semelhantes, chegando à comunhão a mais de 30 condôminos. Confrontava com terras de João Correia de Meio, João Caetano da Silva, Francisco Xavier Lopes e outros.


GRAMINHA

Pertenceu a José Claro Henrique de Carvalho, por cuja morte passou a diversos herdeiros e à viúva Maria Augusta de Carvalho, que em 1892 vendeu seu quinhão a Antônio Augusto de Almeida Cárdia, contavam-se entre os condôminos Francisco Blanco Passos, Antônio Pinto Freire (também proprietários de imóveis vizinhos) e muitos outros. Confrontava com as fazendas Mineiros, Jacutinga, Severinos e com outras.

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