ACHADOS HISTÓRICOS DE MINEIROS DO TIETÊ

 

A NOVA ETNIA PAULISTA

O povoamento das terras desta região foi feito pelo povo paulista antigo - o bandeirante -. uma raça nascida do cruzamento de brancos com índios. Os mineiros que aqui se estabeleceram, podem ser incluídos nessa classificação, pois foi o povo paulista que povoou Minas Gerais.

Predominava, portanto, o elemento mameluco (caboclo), de comportamento nômade, afeito ao desbravamento, caçadas e pescarias. mas bem pouco dedicado ao trato da lavoura. Além do mais os mineiros que aqui vieram principalmente para plantar café, sofreram com a falta de mão-de-obra e ausência de um meio de transporte eficaz para escoar o produto. A região viveu uma longa paralisia, até que chegasse a estrada de Ferro.

Por volta de 1870, com declínio dos cafezais das regiões velhas, foram muitas as pessoas que migraram dessas zonas cafeeiras para Mineiros do Tiete e Jaú. Se folhearmos por - exemplo, os livros de Registros de Óbitos de Mineiros, ns. 1 e 2, referentes ao final do século passado e início do atual. Encontrarmos os nomes de pessoas naturais do Vale do Paraíba, Itu, Rio Claro, Rio de Janeiro, além de pessoas naturais da Alemanha, Suíça, Portugal, Espanha e principalmente da Itália; e então estranharíamos tais nomes, como se esses livros não fossem de Mineiros do Tietê.

(Evidentemente teríamos de ter paciência ao folhear esses alfarrábios, pois cerca de 90% dos falecimentos neles contidos, referem-se a crianças, devido à alta taxa de mortalidade infantil, numa época em que o "mal de sete dias" não encontrava barreiras). Mas esses nomes, vindos dos mais variados e distantes lugares, faziam parte de um movimento migratório em marcha para o oeste, acompanhando o avanço do café conjugado com a implantação das ferrovias, migração essa que podemos chamar de Frente Pioneira Paulista. Era formada, em sua maioria, por descendentes de bandeirantes, e foi a responsável pelo desbravamento das áreas florestais que por volta de 1900 cobriam do território paulista, onde disseminaram completamente a cultura cafeeira, fazendo de São Paulo o maior produtor de café do mundo, e lançando bases econômicas para a Revolução Industrial de São Paulo - a primeira a ocorrer na América Latina.

Entre as cidades da região, Jaú foi a mais favorecida, já que para ela vieram famílias ricas do Vale do Paraíba, Itu e Piracicaba, fazendo grandes investimentos na área cafeeira. Se a maioria dessas pessoas acompanhava a marcha cafeeira, buscando terras de graça (devolutas) ou posses a preços baixos, o mesmo não acontecia com o imigrante italiano. Ele tinha a característica de "parar no emprego", dando sustentação às lavouras já começadas. Enquanto o caboclo descendente do bandeirante, se mudava com a família em busca de novas oportunidades, o italiano preferia trabalhar obstinadamente e com dedicação, fazendo economias para no futuro ter sua própria terra ou comércio, tanto que no primeiro quartel deste século os antigos colonos italianos já eram todos proprietários de terras ou de pequenas empresas.

Mas a marcha para o oeste, da Frente Pioneira Paulista, também levaria famílias caboclas de Mineiros do Tietê, quando os cafezais do oeste paulista e norte paranaense abriam lavouras novas, em áreas atraentes. O povo bandeirante antigo, ou etnia anterior, conseguia sobreviver no meio de florestas, vencendo índios selvagens e outros desafios, pois a floresta era o seu meio natural. A ele devemos o desbravamento das áreas onde o café prosperou. Mas ao imigrante (além da maioria italiana, também vieram espanhóis, portugueses e japoneses, com o mesmo espírito de trabalho), devemos a grande produção cafeeira, quando aqui impuseram um novo modelo de aplicação do trabalho, se empenhando de um modo competitivo e incansável na execução das tarefas.

Depois da chegada dos italianos, formou-se uma nova etnia paulista, quando os sobrenomes italianos passaram a predominar, em relação aos sobrenomes que identificavam o bandeirante antigo. E também a pureza da fala popular foi perdida: o português "macarrônico" empregado pelos italianos, empobreceu, com sua influência, o linguajar quase acadêmico com que o paulista antigo se expressava. Hoje, portanto, o povo paulista é o que menos obedece às regras gramaticais, cometendo os mais berrantes erros de concordância, em gênero e n6mero, em sua fala popular.
Mas se a nova etnia nos custou à pureza da linguagem oral, ganhamos em competição econômica: desde a formação da nova etnia, São Paulo é a unidade mais rica e moderna da Federação, graças a essa reciclagem em sua geografia humana.


A COLÔNIA ITALIANA

Um livro raro, preservado pelo Consulado italiano de São Paulo, mostra bem a participação dessa nacionalidade na vida de mineiros do Tietê. Publicação em 1937 na Capital paulista, seu autor, Salvatore Pisani, deu-lhe o título de “Lo Stato di San Paolo nel Cinqüentenário deli Immiraziona”. E nele procura enumerar (talvez seja essa sua grande qualidade) as principais de imigrantes que residiam em Mineiros no ano de 1937.

Dos nomes relacionados por Salvatore Pisani, alguns se mudaram do Município, assim como outros vieram depois e, portanto não foram incluídos na relação; apesar disso o livro se revela um importante documento e não somente para Mineiros do Tietê: essa obra traz idêntico trabalho sobre os demais municípios paulistas.

As páginas que falam de Mineiros, vão do nº. 731 ao 734 e fazem o seguinte relato: “O Município di Mineiros é stato creato com la legge nº. 581 del 29 de agosto de 1898”.

Situato a pord-ovest della Capitale, ad un’altitudine media di circa 650 metri sul livelio del mare. Esso ba attualmente ua superficie di 198 Km2 e una popolazione di 6.409 balbitanti. O território si presenta alquanto accidentato, perche attaversato della Serra Del Banharão. I fiumi principali Che solcano la regione, sono il S. João e il Tietê. Quast’ultimo segna i confini col município di São Manoel. II clima è salubre e la temperatura varia da um mínimo di 0º a um massino di 32 gradi.

L’agricoltura favorita dalla buona qualità delle terra, si occupa, com risultati soddisfacenti di varie cotivazoni cereali, riso, canna da zucchero, frutti, ecc. La coltata principale é pero quelle del caffé, del quale esistono nel Município circa 3 milioni di piante, che dano uma produzione media annua di 55,80 arrobas per Mille piedi.

Lállevamento del bestiame ba normale sviluppo in tutti i rami e la produziome è piu che sufficiente ai bisogni dell’agricoltura e del consumo locali. L’attività há assunto in questi ultimi anni um ottimo incremento. Si annoverano nel municipio, oltre solite industrie dell’agricoltura, numerose fabbriche di prodotti diversi paste alimentari, dolei e biscotti, birra e bibite, manufatti di cuoio, saponi, ecc. O commercio è ench’esso in potevole attività e vanta oltre un centinario di negozi di generi diversi.

L’istruzione pubblica primaria vanta un gruppo Scolastico e due scuole private, con sede nel capolnogo, e 2 scuole rurali, distribuite nel territorio del Municipio, con una popolazione scolastica complessiva di 1.197 alunni.

La stampa è reppresentata del vivace settimanale “A Reação”, che si occupa principalmente di argomenti d’interesse locale. Ecclesiasticamente, questo Municipio costituisce una Parrocchia, denominata Buon Gesú, dipendente dalla Diocesi di São Carlos. Giudizíariamente, è sede di Distretto di Pace, dipendente dalla Comarca di Dois Córregos.

Gl’italiani residenti nel Município di Mineiros si fanno ascendere a circa 1.000; i figli d’italiani si calcolano in circa 3.000. I nostri cannazionali in gran maggioranza, sono dediti ai lavori campestri. In buon nemero sono però anche queli che si occupano dellie attività industriali e commerciali e che eservitano i mestieri. Possiedono 91 proprietà rurali, com uma estensione di 1.535 alqueires, per il valore capitale di 2.348 contos di reis.

Fra i principali agricoltori di nostra stirpe, citiamo: Ferrucio Bontura, Pietro Mercadante, Adamo Fregolente, Agabito Baldi, Alberto Zunta, Alessandro Bressan, Ângelo Geraldo, Anselmo Levorado, Antonio Cestari, Antonio Scalesi, Bortolo Rossetto, Gaetano Bergamaschi, Gaetano Zeviani, Candido Missaglia, Caterina Cavezzana, Cesare Gemente, Cesare Pincelli, Constantino Romanelli, corradino Leone, Cirillo Albertin, Domenico Bordin, Emilio Carradini, Emilio Ferro, Emilio Tonello, Eustachio Rizzo, Eustachio Santilli, Francesco Mônaco, Francesco Orlando, Federico Boaretto, Giocondo Garzotto, Egisto Levorato, Gregório Santini, Ermenegildo Persegato, Ermenegildo Zunta, Umberto Lucchini, Umberto Petroni, Ida Pedrioli Albertini, Frateli Vendramini, Ivo Rondino, Giacomo Boaretto, Giacomo Corsini, Giovanni Gagliardi, Giovanni Fregolente, Giovanni Perseghini, Giovani Rizzo, Giovanni Vendramini, Giorgio e Massimo Petroni, Giuseppe Fregolente, Giuseppe Simonetti, Giuseppe Stefanato, Giuseppe Stingozzi, Giustino Santilli, Luigi Cestari, Luigi Corsini, Luigi Luppi, Luigi Trampazzo, Luigi Rizzo, Luisa Ferrigno, Luisa Viola, Marcilio Vizzani, Martino Pollo, Pacifico Perseghini, Pietro Fusaro, Pietro Vendramini, Pietro Marotto, Primo Marinelli, Raffaele Aversan, Raimondo Marinelli, Salvatore Moreno, Santo Montagnini, Santo Penitente, Silvio Fragolente, Venanzio Zunta, Virginio Bruno, Virginio ed Emilio Rampazzo, Virginio Farsetto, Vincenzo Ferrigno, Vicenzo Tonon.

Fra gl’industriali, citiamo: Romano Pincelli, Daniele Pesce e Fratelli e Enrico Guerrini e Fratelli, com fabbriche per costruzioni e riparazioni di veicoli; Cesare Pincelli, Francesco Cherubim e Pietro Pincelli, com fabbriche di manufatti d icuolo; P: anerato e Luigi Rampazzo, com fabbriche di laterizi; Ângelo Zanotto, Federico Buonamini e Luigi Tiziano, com fabbriche di calzature; Giuseppe Zugliani e Fratelli Chiaramonte, com fabbriche di liquore, birra e bibite.

Fra i commerciante: Giovanni Napoletano, H. Campanati, Ferdinando Pionetti, Silvio rossetto, Ernesto Chiaramonte, Francesco Peltinati, Michele Fiore, Beniamino e Giuseppe Bruno, Virginio Tiziano; fra gli artigiani: Alfonso e Augusto Zugliani, Mario Mantovanini, Belmiro e Erminio Torino, Eugenio Adami, Francesco Mônaco; fra i professionisti: il medico dot. Salvatore Mercadante, profetto di Mineiros; i farmacisti Francesco e Vicanzo Cipriano, Farchietto Achille Penitente, il cosntruttore Fioravante Forti. II R. Consolato Generale di San Paolo ha in Mineiros un Corrispondente nella persona del sig. Giuseppe Zugliani.

Mineiros, capoluogo del Municipio, ha attualmente una popolazione di 1.448 habitanti.La città è dotata di tutti i servizi pubblici di conforto moderno. Trai suoi principali edifici, citiamo: il Palazzo Municipale, il Gruppo Scolastico, il Posto di Polizia, la Chiesa Matrice”.

Baseados em dados desse artigo que reproduzimos, constatamos o seguinte: considerando que dos 6.409 habitantes de Mineiros do Tietê em 1937, cerca de 4.000 eram italianos ou descendentes dessa nacionalidade, então podemos afirmar que a nova etnia paulista já era a maioria entre a população mineirense dessa época, como ocorreu de um modo geral em todo o território de São Paulo.

SUBDELEGACIA DE MINEIROS

Foi criada em 1890, e sabemos que o 2º suplente era o subdelegado Salvador Vanaglia, pois em 12 de julho de 1891, ele enviou uma carta ao Dr. Américo Brasiliense, cumprimentando-o pela nomeação a Presidente do Governo do Estado de São Paulo. (Arquivo do Estado, São Paulo-SP).

DISTRITO DE PAZ DE MINEIROS

Criado em 1891, os primeiros juízes foram:

José Francisco de Queiros – Juiz de Paz.
Cassiano Valentim Borges – 1º suplente.
Saint Clair Ferreira da Luz – 2º suplente.

O nome dos três consta em carta enviada ao governo, felicitando-o pela nomeação, datada de 24 de março de 1891. (Arquivo de Estado São Paulo-SP).

O PRIMEIRO PROFESSOR PÚBLICO

Inicialmente havia apenas professores particulares em Mineiros. Mas em 15 de março de 1900, o intendente Municipal, Dr. Alípio Corrêa Leite, comunicou à Câmara municipal a aprovação de José Marcondes Cazar para a vaga de professor da Cadeira Municipal, um cargo criado para o qual o único candidato foi aquele indicado pelo Intendente. (Livro da Câmara Municipal de Mineiros do Tietê).

A PRIMEIRA CÂMARA MUNICIPAL

A lei de 1898, que criou o Município, manteve as divisas anteriores e estabeleceu a composição da Câmara em 6 vereadores. No ano seguinte, em 30 de janeiro, foi realizada a eleição da Câmara, mas como as autoridades dois-correguenses se negassem a fazer a apuração e dar posse aos vereadores, os mesmos se reuniram em 10 de fevereiro de 1899, aprovando seus próprios nomes (os votos não eram secretos, já se sabia e resultado).
Para a presidência da Câmara foi escolhido o Tenente Coronel Gerlado Alves Pinheiro, por ser o vereador mais velho. Ele era descendente das duas famílias fundadoras de Dois Córregos: Alves de Mira e Lopes Pinheiro (essas famílias se ligaram através de várias comunhões matrimoniais).

A GUARDA NACIONAL EM MINEIROS

A Guarda Nacional havia sido criada pelo Império, em 1831, para substituir as antigas milícias e ordeanças. Seus membros eram cidadãos do povo, nomeados pelo Juiz de Paz, Presidente da Província ou pelo pr6prio Imperador. Após a promulgação da República, a Guarda Nacional tomou caráter de milícia federal; data dessa época seu início no Município de Dois Córregos, que incluía o Distrito de Paz de Mineiros.

Na sessão da Câmara Municipal de 25 de novembro de 1889, foi indicada pelo vereador José Américo'da Rosa a criação "de uma guarda patri6tica que acaba de ser instituída sob a forma republicana no Estado de São Paulo, sendo isenta do serviço de guarnição e policiamento de cadeia e da vida". A proposta foi aprovada, sendo convidado para ser instrutor o cidadão Benedicto D' Almeida, ex-voluntário da GUCITIl do Paraguai e antigo morador de Dois C6rregos.

No distrito de Mineiros alguns cidadãos faziam parte da Guarda Nacional, subordinados a Dois Córregos. E mesmo depois da emancipação política mineirense, eles continuaram ostentando suas patentes. Isso explica as graduações dadas a civis como o Major Cirurgião Deocleciano Pegado (do Comando Superior de Guerra da Guarda Nacional), Tenente José Valentim Borges (do 960º Batalhão de Infantaria), Alferes Ignácio Mamendes Borges, Capitão José Puttomatti, . Cel. Theophilo Porte Ua, Tte. Cel. Geraldo Alves Pinheiro, e outros. Eram pessoas que detinham a força política de Mineiros, por pertencerem à Guarda Nacional (ela deu origem, no Brasil, à fase conhecida como "coronelismo").

O fenômeno do "coronelismo" foi o primeiro retrocesso republicano, pois impedia a criação de um País moderno. Todo o espírito de modernidade que D. Pedro II impus ra à Nação (a implantação da grande malha ferroviária foi o melhor exemplo) havia sido enterrado pela República. E uma das ações da ditadura Vargas, iniciada em 1930, foi combater o "coronelismo", eliminando através da força as oligarquias regionais.

O SUMIÇO DOS DOADORES

Se percorrermos a época que vai da criação da Subdelegacia, até às primeiras décadas do Município de Mineiros, poderemos notar que aquelas pessoas que doaram terras à Igreja, não participaram da vida social e política de Mineiros. Com exceção de três pessoas (o Juiz de paz José Francisco de Queiroz, o candidato derrotado a vereador Dr. Deocleciano Pegado, que obteve somente um voto na li eleição da Câmara, e o vereador José Valentin Borges), todos os demais se ausentaram da história de Mineiros do Tietê. E por coincidência dois dos acima citados pertenciam aos quadros da Guarda Nacional, cujos membros eram geralmente fazendeiros ricos, a exemplo do que acontecia no resto do Brasil. .

Até mesmo o fazendeiro Vicente Valério dos Santos, doador dos 4 alqueires iniciais ao patrimônio da Paróquia jamais aparece em qualquer ato da comunidade. Seu nome não consta sequer nos livros de óbitos arquivados no Cartório de Registro Civil de Mineiros do Tietê; talvez tenha se mudado de Mineiros após regularizar suas terras.

Essas considerações reforçam a nossa tese de que os doadores somente completaram o patrimônio da Paróquia movido por interesses particulares - para ganhar das autoridades eclesiásticas um documento que servisse como prova de propriedade no caso de demandas judiciais.

A bem da verdade, as certidões emitidas pela Igreja, baseadas nos livros de registros paroquiais, sempre foram usadas como provas em processos judiciais. Basta dizer que muitos desses livros (das paróquias de Dois Córregos, Brotas, etc.) simplesmente desapareceram. Para citar apenas um exemplo, se um fazendeiro tivesse um filho natural e não quisesse que ele participasse de sua herança, bastaria fazer sumir o livro de registro de batizados, forma de eliminar a principal prova documental sobre a paternidade do menino. Isso porque os registros de nascimentos e casamentos nos Cartórios de Registro Civil são uma prática republicana, introduzida a partir de 1889.

Conforme depoimento de Armira de Andrade Leite (22) a Igreja Matriz de Dois Córregos sofreu três incêndios no século passado, quando ainda não era de alvenaria. As chamas consumiram, portanto, registros históricos que também incluíam o passado mineirense. Tais incêndios poderiam ter sido provocados por alguma vela acesa em lugar indevido; mas também poderiam ter surgido de forma criminosa, num tempo em que os registros eram guardados na própria capela. Por volta de 1935 as autoridades eclesiásticas, preocupadas com o desaparecimento de Livros de Tombo 011 de suas folhas, passaram seu arquivamento para as dioceses, enquanto os registros de doações de terras e Provisões se concentraram no Arquivo da Arquidiocese de São Paulo.

O ÊXODO RURAL

Na estrutura antiga do campo, os trabalhadores moravam nas casas de colônia das fazendas, pois tinham de residir perto de seu local de trabalho, já que o turno era de sol a sol, bem mais do que a atual jornada de oito horas diárias. E nem havia estradas e transportes em condições de levar o trabalhador diariamente da cidade ao campo, como acontece nos dias atuais.

Esse acúmulo de pessoas vivendo numa mesma propriedade, obrigava o fazendeiro a adotar uma produção voluntariosa de alimentos. Plantava o milho, arroz, feijão, fumo, legumes e frutas em geral, de modo a poder sustentar as necessidades básicas e diárias dos moradores do sítio ou fazenda. Essa produção generalizada de alimentos gerava um excesso de ofertas, fazendo com que os produtos não conseguissem preço de mercado. Mas a bem da verdade essa falta de preços em produtos como a batata e o alho jamais incomodava - o objetivo da policultura era somente o de suprir o consumo dos membros da comunidade que compunham a fazenda, não existindo preocupação com o mercado de preços.

Essa estrutura antiga do campo, adotada desde o declínio da escravidão, se sustentava com o lucro de um único produto: o café. Secundado pela criação de gado, no café eram depositadas as esperanças de todo proprietário. Devido à ausência de mecanização na lavoura, o número de trabalhadores utilizados em cada cafezal era enorme, gerando lucros reduzidos. Isso refletia no salário do próprio trabalhador, que ganhava pouco. Mas os ordenados irrisórios eram compensados através de regalias: cada trabalhador podia criar seu gado ou ter uma pequena lavoura nas terras da fazenda; e foram essas vantagens que permitiram principalmente ao imigrante estrangeiro ganhar dinheiro suficiente para adquirir o seu próprio sítio ou negócio, passando de colono a proprietário.

A grande crise cafeeira de 1929, quando esse produto perdeu preço no mercado internacional, foi um caminho sem retorno. Nos anos que se seguiram as baixas continuaram combinadas com uma série de medidas governamentais desastrosas, levando os agricultores a grandes prejuízos.

A queda do café, cujo cultivo e colheita sempre exigiram um enorme número de braços, provocou o abandono dos cafezais e um desemprego monstruoso. Rufa a antiga estrutura do campo, baseada no café. A maioria dos pequenos municípios, com economias que se baseavam na agricultura, não tinha em sua zona urbana moradias disponíveis e nem empregos suficientes para abrigar esses migrantes que abandonavam a vida do campo. Mineiros do Tietê pode ser enquadrada nesse caso e os recenseamentos de 1940 a 1970, demonstram a diminuição de sua população rural e do Município:

Anos: 1940 1950 1960 1970
População urbana: 1.372 1.344 2.252 3.254
População rural: 5.179 3.731 3.127 1.841
Total do Município: 6.551 5.075 5.379 5.095

Como podemos perceber através do gráfico acima, o êxodo rural chegou a fazer diminuir o número de habitantes do Município, embora esse fenômeno não fosse somente local: ocorria em boa parte do Estado paulista.

Muitos desses caboclos desempregados partiram para o norte do Paraná e extremo-oeste paulista; nessas áreas ocorria a abertura de lavouras novas, em solo virgem e produtivo, cuja produção ainda conseguia competir numa situação de mercado em baixa. Mas não havia colocação para tantos desempregados saídos das zonas velhas de cultivo. E a solução para essa horda de desocupados, foi partir para a Capital paulista, onde a revolução industrial se iniciava. Eles formavam, porém, uma multidão a se oferecer como mão-de-obra desqualificada, aceitando subempregos e se contentando com ordenados miseráveis. E justamente eles, que antes viveram a fartura de alimentos na zona rural, iriam inaugurar a fome nas periferias de São Paulo.

A época presente assiste a uma nova ordem no campo; todo produto a ser cultivado deve ter projeção de lucros para a próxima safra. Já não se aceita, como antigamente, que cereais sejam plantados sem preços de mercado. A mecanização, bem como a escolha de atividades rurais que exijam o menor número possível de braços, são práticas realistas e modernas geralmente utilizadas. E os e a exemplo dos proprietários, preferem morar nas cidades, mesmo tendo que viajar diariamente ao seu local de trabalho; é uma forma de escapar do isolamento humano que se tornou a zona rural, hoje despovoada. A figura do turmeiro "gato", com seu caminhão toldado, condizem, portanto com as necessidades da agricultura atual.

Está longe o tempo em que cada propriedade agrícola uma comunidade social estabelecida, quase auto-suficiente em sua policultura.

“Nesta rua Lopes Chaves
Envelheço e envergonhado
Nem sei quem foi Lopes Chaves.”

Mário de Andrade

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