ACHADOS HISTÓRICOS DE MINEIROS DO TIETÊ

 

JÁ CONHECEU

Coroa de D. PedroII.., com 639 brilhantes e 77 pérolas. Encontra-se no Museu Imperial de Petrópolis-RJ. Ele aqui esteve, acompanhado da Imperatriz Tereza Cristina, entre os meses de outubro e novembro de 1886. A estação de Dois Córregos já havia sido inaugurada em 7 de setembro daquele mesmo ano e os trilhos, portanto, já tinham alcançado Mineiros.

Ao contrário do que se esperava, D. Pedro 11 e a comitiva real vieram pelo rio Tietê, fazendo a rota dos antigos bandeirantes, desembarcando no porto fluvial que se localizava nas proximidades da foz do córrego da Onça. Esse porto era dirigido pelo caboclo Maurício Machado, que, com sua família, eram moradores daquelas barrancas.

Além de ter apreciado o comportamento prestativo do caboclo, o Imperador reconheceu que seu ofício era um trabalho essencial nesses lugares afastados da civilização, e lhe concedeu uma Legítima de 5.000 alqueires localizados naquele baixão de serra, como prêmio pelos serviços prestados.

Aquele porto pertencia à Cia. Sorocabana e por ordem de D. Pedro 11 passou a ser chamado Porto Maurício Machado, sendo que o atual Córrego da Onça também ganhou o mesmo nome desse caboclo. Atualmente um seu bisneto, "Nego" Machado, é um dos vários donos da fazenda Barrinha (margem esquerda do Tietê), em terras de São Manuel e localizada acima da foz do córrego do Quebra Pote. Mas bem pouco "Nego" Machado sabe contar de seu bisavô famoso.

A comitiva real subiu a serra do Morro Alto em liteirais, transportadas pelos serviçais da corte. Em Dois Córregos, onde o Imperador tinha de cumprir as formalidades oficiais junto às autoridades da Vila, o cansaço da viagem fez com que ele dispensasse até mesmo os discursos políticos e somente a Imperatriz receberia como homenagem um ramalhete de flores.

A casa preparada para hospedar D. Pedro 11 era uma das poucas habitações de alvenaria de Dois Córregos, e ainda existe na Rua 15 de Novembro, nº. 68. Em seu trajeto estavam muitas crianças, que tinham ganhado cestinhas de bambu, de alças altas, cheias de balas, na condição de bater palmas quando o Imperador passasse.

Uma dessas crianças era Armira de Andrade Leite (14), que nos prestou este depoimento, Mas D. Pedro 11 resolveu seguir direto para a fazenda Banharão, procurando certamente abreviar a visita, pois tinha de passar por outras localidades paulistas. O jornal "O Combate", de Dois Córregos (anos de 1897 e 1898), faria, onze anos depois, comentários sobre essa breve passagem de D. Pedro 11 em Dois Córregos. E o Imperador foi para a fazenda Banharão usando como transporte uma caleche emprestada do fazendeiro jauense Germano José Coelho, proprietário da fazenda Nova Lusitânia.

As fazendas Banharão e Três Barras, naquele tempo, formavam uma sô propriedade, dos irmãos Antônio Augusto de Almeida Cardia (casado com Ana Cardia) e José Emídio de Almeida Cardia (casado com Carolina Augusta do Amaral Cardia). Foi dividida em 1891, depois da morte de José Emídio, ficando sua viúva, Dona Carolina, com a parte denominada Banharão, e Antônio Augusto com o setor Três Barras(l5). A casa do setor Banharão foi preparada com grande antecedência para receber o casal real. Para a Inglaterra foram enviadas madeiras-de-lei, onde se confeccionaram as tábuas do assoalho da sala, feitas no sistema macho e fêmea, desconhecido no Brasil; e artesãos ingleses vieram realizar o trabalho de colocação. As paredes internas

(14) - Armira de Andrade Leite, mais conhecida como Vó Armira. Nasceu em Dois Córregos em 1871, tendo falecido em 1976,

(15) - Verificar o levantamento cartorário contido no capitulo 'Terras posseadas por tenente Lopes e sua gente' neste livro receberam afrescos de pintores europeus; e as portas, janelas e caixilhos, eram de pinho de figa português. Também de Portugal era a porcelana da pia do lavatório; e uma banheira de cimento queimado foi feita para os banhos do Imperador.

Na fazenda Banharão, D. Pedro 11 plantou uma muda de palmeira real cultivada desde 17 de janeiro de 1879; tinha mais de 7 anos de existência ao ser ali replantada. Chegou a crescer 50 metros de altura e a ter 1,20 m. de espessura no tronco, mas terminou morrendo em 1968. Outra palmeira como essa foi plantada pelo Imperador no setor Três Barras.

Como forma de retribuir o seu anfitrião, D. Pedro concedeu a José Emidio de Almeida Cardia o título de Barão de Avanhandava, titulado por Decreto de 25 de setembro de 1889. Mas como José Emidio viveu poucos anos, quem de fato usufruiu dessa titulação foi a sua viúva, a Baronesa Carolina, da família Amaral Gurgel.

A casa sede da fazenda Banharão, que recebeu o Imperador D. Pedro lI. Propriedade da Sra. Nilza Teixeira Dahás de Carvalho. Foto tirada em 1990, antes de algumas reformas já efetuadas

ASPECTO DAS PAREDES DA SALA DE VISITAS

Antônio Augusto de Almeida Cardia foi agraciado com o título de Comendador, sendo que sua esposa, Dona Ana, não pôde participar das festividades, por estar grávida e esperando o nascimento de seu filho Antônio Cardia Junior (16), mais conhecido como "Totó", que, já nonagenário, redigiu seu depoimento sobre a visita do Imperador.
D. Pedro 11 pousou somente uma noite na fazenda. No dia seguinte, ele e a Imperatriz foram conduzidos ao lado esquerdo do rio Tietê, para o Porto Araquára, onde desaguava o ribeirão Araquára, em área hoje coberta pelas águas da represa de Barra Bonita. Segundo disse "Totó" Cardia, o Araquá nem podia ser chamado de porto: ali existia somente um casarão de madeira erguido na beira do rio sobre "pés direitos de uns três metros de altura". No porto Araquára um vapor da Companhia Fluvial Paulista


(16) . Antônio Cardia Júnior. Depoimento através de lima carta enviada ao Dr. Milton Teixeira datada de 22 de setembro de 1976.
esperava pela chegada de D. Pedro 11 e esposa, para levá-Ios ao Porto João Alfredo, próximo da barra do rio Piracicaba. E desse último porto o casal imperial embarcou na Estação ferroviária da Sorocabana, seguindo para S. Paulo.

SALTO D. PEDRO II - FOTO DA DÉCADA DE 1960

A praça D. Pedro 11 (nome indicado pelo vereador Luiz Scaglione e aprovado pela Câmara na sessão de 02-03-1926), é uma homenagem a lembrar continuamente a visita real, o mesmo se podendo dizer do salto D. Pedro 11, localizado em área urbana cortada pelo ribeirão São João.

A ESTRADA DE FERRO EM 1886

Em 29 de julho de 1880. época em que o ponto final da estrada de ferro, mais próximo desta região, era Rio Claro, o Governo publicou edital abrindo concorrência para a construção dos trechos Rio Claro! Araraquara, Rio Claro Carlos e Rio Claro / Brotas / Dois Córregos / Mineiros / Jaú.

Os vencedores da concorrência transferiram sua concessão ao Barão do Pinhal, que, juntamente com o capitalista Benedicto Antonio da Silva, fundaram a Cia. Rio Claro (estatutos aprovados pelo Decreto 8.638, de 12 de agosto de 1882), dando logo início ao empreendimento.
O Barão do Pinhal, depois Conde do mesmo título, possuía terras em Jaú, o que o animava a construir a ferrovia, além de ser um homem bastante dinâmico: foi um dos fundadores do Banco São Paulo, costumava prestar auxílio a entidades assistenciais e foi também o pioneiro do trabalho livre no campo, através da criação de colônias de imigrantes alemães. Sem contar que, durante a Guerra do Paraguai, a garantia de suprimentos aos combatentes brasileiros, a ele se deveu. E graças ao Barão do Pinhal. devido a seu zelo “os custos da ferrovia foram considerados extremamente baixos na época”.

Quando os trilhos chegaram a Mineiros, a Estação foi demarcada em local distante alguns quilômetros da povoação, segundo depoimento de "Totó" Cardia. Esse fato causou revolta entre os moradores de Mineiros, que se reuniram e, munidos de alavancas e outros apetrechos, marcharam para onde aconteciam as obras, arrancando trilhos já assentados. Esses distúrbios obrigaram a Companhia Rio Claro a mudar o traçado, construindo então a Estação bem próxima do povoado.

A Estação de Mineiros foi inaugurada em outubro ou novembro de 1886, segundo Pedro Calmon (l7) (em seu livro "História de D. Pedro 11", ele conta que o Imperador, durante esses meses, esteve no interior do Estado de São Paulo, inaugurando obras ferroviárias). E também Rubem Cione (18), no livro "História de Ribeirão Preto", assinala a visita de D. Pedro 11 a Ribeirão Preto igualmente em 1886. Além do mais, tendo sido a Estação de Jaú inaugurada em 19 de fevereiro de 1887, a de Mineiros só poderia ter sido antes dessa data, e depois da de Dois Córregos (inaugurada em 07/09/1886).

A vinda de D. Pedro 11, acompanhado da Imperatriz Dona Tereza Cristina, deveu-se ao fato de que a estação de Mineiros, em homenagem ao Imperador, passaria a se chamar Estação D. Pedro U. Mas o bairro sempre manteve a sua denominação antiga, valendo aquela denominação só para a Estação.

Por escritura pública DC (30 de setembro de 1889, a Companhia foi vendida, passando a se chamar “The Rio Claro São Paulo Railway Company”, com sede em Londres). E nas caldeiras das máquinas ardia o carvão mineral importado da Inglaterra, prática comum no início das ferrovias brasileiras.

Em 26 de março de 1892 essa última empresa foi adquirida pela Companhia Paulista, que promoveu a ampliação da rede em direção ao oeste. Desse modo, no final do século XIX se iniciou a construção de um ramal que alcançasse Bauru, denominado "Ramal dos Agudos"; ele partia de Dois Córregos e em 1900 já chegava a Campos Salles.

(17) “Pedro Calmon”. "História de D. Pedro 11", Rio de Janeiro. S tomos.

(18) Rubem Cione. "História de Ribeirão Preto", e Editora 'MAG (Matio-SP). 2a. ediçio. Vai. I. 1989. Pisina 191 Ramal da Oa. Rio Claro, a primeira ferrovia a passar por Mineiros


Em sua passagem por Mineiros do Tietê, foi criada a Estação de Saldanha Marinho, em homenagem àquele que fundou a Cia. Paulista de Estradas de Ferro, e a Estação Falcão Filho, também homenageando a outro dos que batalharam, juntamente com Saldanha Marinho, pela fundação dessa ferrovia. Dessa maneira Mineiros ficava suficientemente servida de meios de transporte para escoar sua produção cafeeira:


Café despachado por estações, em 1900

Mineiros.. . . .. . . . . . . . . . . .. . .... . 5.320 sacas
Saldanha Marinho. . . . ................... 6.872 sacas
Falcão Filho. . . . . . . . . . . . . . . . . ..10.661 sacas
Sacas Capim Fino......................... 24.180sacas
Porto Maurício Machado. . . . . ......17.343 sacas
Sacas Banharão............................. 18.604sacas
Em 15 de agosto de 1929, seria inaugurada a Cia. Estrada de Ferro Barra Bonita, que ligaria aquela cidade à Estação de Campos Salles, além de ter uma ponta de trilho servindo ao Barreirinho, saída igualmente de Campos Salles.

E em 30 de março de 1941, a Cia. Paulista inaugurou um novo trecho que ligava Mineiros ao Capim Fino, com 6.800 metros de extensão. Essa obra havia sido iniciada no final de 1939, tendo sido utilizadas as seguintes matérias primas: 68.515 m/3 de terra, 11.037 m/3 de piçarra, além de 6.794 m/3 de pedra solta, 3.074 mJ3 de rocha mole e outros materiais. Entre as consideradas obras de arte, foram feitas 6 passagens inferiores, 21 bueiros de 0,60 cm. de diâmetro, 2 bueiros do tipo Romano, 2 passagens superiores de 4 metros e assentamento de linha telegráfica.

LINHA PONTILHADA: ESTARADA EM CONSTRUÇÃO DESDE 1900

Com a inauguração do trono Mineiro / Capim Fino, em março de 1941, ficou sendo este o traçado do “ramal dos Agudos”, permanecendo ainda a ligação com Jaú.

A "Maria Fumaça" do início da ferrovia, nesta região. A máquina que ia de ltirapina a Jaú, passando por Mineiros, tinha como maquinista o senhor Agípio dos Santos, funcionário que trabalhou durante 50 anos na Companhia Paulista.

A ligação de Mineiros a Capim Fino, provocou a desativação da Estação de Saldanha Marinho, um local de difícil manobra para as máquinas. Mas em 15 de novembro de 1941, quando a bitola larga que vinha de Itirapina, sem passar em Mineiros, chegou a Jaú, o trecho que ligava Mineiros a Jaú foi desativado. Na verdade era um rama ultrapassado; como se não bastasse sua bitola estreita, também não possuía desvios para manobras em Jaú, tanto que a máquina tinha de partir em ré de Dois Córregos, empurrando o comboio e passando nessa posição em Mineiros; a Maria Fumaça, portanto, só andava para a frente, puxando a composição, quando retomava de Jaú.

Quando a bitola larga da Cia. Paulista atingiu Bauru, o ramal Dois Córregos/Mineiros/Capim fino/Falcão Filho/Campos Salles/Barra Bonita/Barreirinho, que ligava Campos Salles a Bauru, foi desativado. Mineiros do Tietê, desse modo, perdeu sua derradeira estrada de ferro.

E então, no dia 31 de agosto de 1966, a "Maria Fumaça", fez sua última viagem, resfolegando em sua passagem por Mineiros do Tietê e seguindo para estacionar na história. No dia seguinte os jornais da Capital publicavam a única explicação das autoridades, justificando a morte do trecho: um ramal deficitário e de bitola estreita. Estação de Mineiros, desativada.

A FAZENDA BANHARÃO, RETRATO DE UMA ÉPOCA

A Fazenda Banharão simboliza muito bem a fase brasileira em que o café era nosso maior produto de exportação, fazendo surgir os chamados "barões do café", com suas fazendas suntuosas (a fazenda Retiro em Dois Córregos possuía banda de música, e a fazenda Independência em Jaú tinha barbeiro, lojas, telefone, promovia bailes carnavalescos, contando, portanto com melhoramentos que lhe davam um "status" equivalente ao de uma pequena cidade). Os donos dessas fazendas conseguiam influência política incomum, e os Cardia são um claro exemplo: receberam o Imperador e foram agraciados com títulos honoríficos.

Se naqueles tempos o produto importado, principalmente o europeu, era sinônimo de poder e bom gosto, devemos considerar que nesse ponto o Brasil ainda não mudou. Mas a ausência das atuais sobretaxas facilitava, anteriormente, as importações, proporcionando luxo e ostentação aos grandes fazendeiros.
Na fazenda Banharão, a começar pelas grades do terraço externo, vieram da Europa; o terreiro de café, com área de um alqueire, era asfaltado com o asfalto vindo em barricas Inglaterra; a cocheira tinha aproximadamente 100 m. de comprimento.
por 20 m. de largura, e seu telhado era de telhas provenientes de Marselha, na França (a olaria que as produziu tinha o timbre "Laut Ethienere"). Atualmente os proprietários estão providenciando nova cobertura para a cocheira, devido ao péssimo estado das telhas.

A casa sede tem 22 cômodos e somente a sala de jantar mede 15 metros por 8 de largura. Os alicerces, na largura de 80 centímetros, foram feitos de pedras lavradas por escravos, tendo a altura de 3 metros até ao teto do porão - onde funcionava a prisão de escravos, pois nas paredes existiam argolas e correntes hoje desaparecidas.

A fazenda, situada no bairro de Capim Fino, era imensa, chegando a possuir cerca de 1.500.000 cafeeiros. As bicas para a lavagem do café são feitas de pedras de tamanhos descomunais, e para que o produto chegasse às tulhas, estabeleceu-se um sistema de vagonetes basculantes com capacidade de 20 sacas cada uma, correndo sobre trilhos importados, “que nada mais eram do que uma estrada de ferro em miniatura com.seus desvios e chaves de mudança de linha; (19)”.

A casa da Máquina de Benefício de Café, com cerca de 80 m. de comprimento por 20 de largura, fazia o trabalho de beneficiamento do produto por caldeira a vapor, sendo substituída em 1920 por uma máquina norte-americana, com motor de 20 H.P. Possuía ainda a fazenda, energia elétrica e telefone.

A cocheira e os chiqueiros de porcos, construídos com pisos acimentados, noções modernas de higiene e sistemas de divisões de uma atualidade notável, demonstram bem o nível administrativo dos Cardia.

A, exemplo da casa sede, a colônia, somando dois grupos de casas geminadas que davam um total de 68 moradias, tinha água encanada e sanitários. Havia ainda várias casas próximas da sede para auxiliares diretos como administradores, apontadores, fiscais, etc. Todas essas residências possuíam pára-raios com ponta de platina.

A extensão da paisagem que se enxerga do terraço é privilegiada, alcançando as águas do Tietê e os vários acidentes geográficos do vale.

HISTÓRIAS DO BANHARÃO E DOS CARDIA

Os irmãos José Emídio e Antônio Augusto de Almeida Cardia, donos das terras de Banharão e Três Barras, antes uma única propriedade, eram parentes por descendência de Antônio Antunes Cardia, morador de Porto Feliz, que em 18 de março de

(19) – Dados utilizados do livreto “Banharão “edição artesanal e limitada, sem data ou autoria publicada pelos irmãos Teixeira”.

Em 1801 conseguiu do Governo uma sesmaria (20) na margem direita do Tietê, sesmaria que viria a ser, mais tarde, as fazendas Banharão e Três Barras. Essa sesmaria media "égoa de terra de testada com 2 de sertão" e se localizava no "Ribeirão dos Lençóis que faz barra no Rio Tietê". Esse ribeirão nada tem a ver com o rio Lençóis, afluente da margem esquerda do Tietê; é também citado como linha divisória da sesmaria de Joaquim Antonio de Arruda, sendo, portanto um dos ribeirões que correm em Mineiros do Tietê: ribeirão Três Barras.
Já quanto ao nome Banharão, é de origem tupi: Bae (coisa) Nharon (brava).
Unindo os dois termos, teremos a palavra "baenharon", aportumesada para banharão. O pesquisador paulista Francisco José de Lacerda e Almeida 1), ao descer o rio Tietê em 1788, fez anotações em seu Diário sobre a tradição dessa denominação. Ela surgiu quando, durante uma certa monção anterior, um animal ou peixe de grande porte saltou nas águas, provocando muitas ondas. Sem conseguir identificar o animal, os tupis, que acompanhavam os bandeirantes e que a tudo costumavam nomear em sua língua, exclamaram a palavra "baenharon" (coisa brava), que depois passou a designar um certo poço nas imediações, uma corredeira e mais abaixo as terras do Banharão. Essa palavra é hoje bastante usada porque se refere ao conhecido bairro do Banharão (pertencente a Jaú), que por ironia fica afastado do Tietê. O bairro' do Banharão perdeu, portanto, a tradição aquática que o ligava ao rio Tietê, tendo agora que se contentar com as águas magras do rio Jaú, quase um ribeirão.

Uma outra história de tradição oral, envolta em lendas e desse modo não muito digna de crédito, é aquela que se refere à visita de D. Pedro 11 aos Cardia. Diz ela que Antônio Augusto seria amasiado com uma negra, o que o obrigou a esconder o fato durante a visita do Imperador, contratando para fazer as honras da casa de sua, parente Dona Carolina, qual se fosse essa dama a sua verdadeira esposa. E ela teria representado tão bem o papel de anfitriã, que receberia de D. Pedro 11 o titulo de Baronesa.

Mas o levantamento cartorário da fazenda Banharão nos mostra que Dona Ana era realmente casada com Antônio Augusto; e também o Decreto de 25 de setembro de 1889, concedeu o titulo de Barão de Avanhandava a José Emílio, e não a Dona Carolina, informação essa que pode ser confirmada na enciclopédia Delta Larousse. São provas, portanto, bastante suficientes para desmificar à lenda.

ANTECEDENTES DA EMANCIPAÇÃO POLÍTICA

Durante a ultima década do século, a vila ou município de Dois Córregos sofreu as conseqüências de duas epidemias que praticamente imobilizaram seus governantes,

(20). Livro ele Sesmarias, 'Patente Provisões, nº. 40. Folha. 27 - verso. 28 e 28- verso
(21) Francisco José de Lacerda e Almeida. “Dario de Navegações’ Opúsculo já mencionado”.

Obrigados que foram a destinar todos os seus esforços, bem como a renda municipal, para o setor de saúde pública.

Primeiramente, em 1892, estourou Dois Córregos a epidemia da bexiga (varíola), deixando a povoação vazia. Seus moradores procuravam fugir para a zona rural ou para a casa de parentes em cidades vizinhas, para escapar da morte.

Quando as finanças do Município já se recuperavam da epidemia da bexiga, veio, em 1896, a epidemia da febre amarela, durando até junho do ano seguinte. Novamente os moradores tiveram de fugir da povoação, mas mesmo assim foram computados 128 mortos.

Durante esse período negro da vida de Dois Córregos, o distrito de Mineiros não deixaria de so&er os reflexos da falta de dinheiro. Tanto que, durante a epidemia da febre amarela, a única obra pública realizada pela Intendência dois-correguense, foi um chiqueiro de porco no matadouro de Mineiros, enquanto em Dois córregos estava lisado, com os vereadores se reunindo às escondidas num sítio, de medo da epidemia.

A população de Mineiros, por outro lado, aumentava sensivelmente. Ali não houve epidemia e por ocasião da febre amarela foram transferidos provisoriamente para o distrito, mineiros tieteense, o Foro da Comarca, o cartório, a Inspetoria Escolar e a agência consular italiana.

A presença do Juiz de Direito, Dr. Affonso Eugênio Joly, em Mineiros, certamente deu força ao movimento de emancipação política mineirense. Esse Juiz tinha muitos adversários políticos em Dois Cônegos, por ser adepto da monarquia, e lá ele era atacado sistematicamente pelos republicanos no jornal "O Combate", de penetração estadual, que tinha como proprietário o Cel. Ernesto Leão Brasil. Tanto que o Dr. Joly acabou sendo transferido da Comarca em 1897. E após sua saída o jornal continuou acusando-o de conspirar contra Dois Córregos, dando a entender que tal traição se referia à emancipação de Mineiros.

Outro fato também facilitaria o movimento de emancipação: os condôminos da fazenda Mineiros, cujas partes atingiam a área urbanizada, mas que ainda não tinham doado terras para a formação do patrimônio da Paróquia, finalmente fizeram as doações, em 1896, estabelecendo assim os limites da povoação urbana e facilitando a elevação a Município.

Além do mais, devido às epidemias, a população de Mineiros era superior à de Dois Cônegos - um forte argumento para a emancipação. Muito embora mais tarde Dois Córregos retomasse a sua superioridade populacional sobre Mineiros, mas então a separação política já se efetivara.

Dois passos anteriores também devem ser levados em conta: primeiro, a criação da subdelegacia de Mineiros, em 8 de fevereiro de 1890, que estabeleceu as divisas mineirenses:
"Começarão no Ribeirão do Gavião, no ponto em que o município de Dois Córregos divide com o de Jaú, seguem ribeirão acima até o córrego de José Lopes, sobe por este até a estrada de rodagem que vem de Dois Córregos; daí, em linha reta 1 serra de água do Hilário"; desta também à cima procurando a cabeceira da água da fazenda do Dr.Cintra, e por esta água abaixo até o rio Tietê, daí em diante pela divisa entre. Dois Córregos, até o ponto de partida destas divisas".

Em 17 de janeiro de 1891. foi criado o Distrito de Paz, subordinado a Dois Córregos, utilizando as mesmas divisas estabelecidas durante a criação da subdelegacia. Em 29 de agosto de 1898. através da Lei n° 581, Mineiros seria elevada à categoria de Município, sob a jurisdição da Comarca de Dois Córregos.

A Paróquia seria criada em 04 de dezembro de 1910 e instalada em 08 de janeiro de 1911. tendo como primeiro pároco o padre Luiz Priulli. Após plebiscito para a mudança de nome do Município. já que havia outra cidade com o nome de Mineiros. em Goiás, o Decreto 14.334. de 30 de novembro de 1944, autorizou a modificação, passando então este Município a se chamar Mineiros do Tietê. E em 28 de outubro de 1969, através do Decreto-Lei 158. Mineiros passaria a ficar sob a jurisdição da Comarca de Jaú.

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