JÁ
CONHECEU
Coroa
de D. PedroII.., com 639 brilhantes e 77 pérolas. Encontra-se
no Museu Imperial de Petrópolis-RJ. Ele aqui esteve, acompanhado
da Imperatriz Tereza Cristina, entre os meses de outubro e novembro
de 1886. A estação de Dois Córregos já
havia sido inaugurada em 7 de setembro daquele mesmo ano e os trilhos,
portanto, já tinham alcançado Mineiros.
Ao
contrário do que se esperava, D. Pedro 11 e a comitiva real
vieram pelo rio Tietê, fazendo a rota dos antigos bandeirantes,
desembarcando no porto fluvial que se localizava nas proximidades
da foz do córrego da Onça. Esse porto era dirigido
pelo caboclo Maurício Machado, que, com sua família,
eram moradores daquelas barrancas.
Além
de ter apreciado o comportamento prestativo do caboclo, o Imperador
reconheceu que seu ofício era um trabalho essencial nesses
lugares afastados da civilização, e lhe concedeu uma
Legítima de 5.000 alqueires localizados naquele baixão
de serra, como prêmio pelos serviços prestados.
Aquele
porto pertencia à Cia. Sorocabana e por ordem de D. Pedro
11 passou a ser chamado Porto Maurício Machado, sendo que
o atual Córrego da Onça também ganhou o mesmo
nome desse caboclo. Atualmente um seu bisneto, "Nego"
Machado, é um dos vários donos da fazenda Barrinha
(margem esquerda do Tietê), em terras de São Manuel
e localizada acima da foz do córrego do Quebra Pote. Mas
bem pouco "Nego" Machado sabe contar de seu bisavô
famoso.
A
comitiva real subiu a serra do Morro Alto em liteirais, transportadas
pelos serviçais da corte. Em Dois Córregos, onde o
Imperador tinha de cumprir as formalidades oficiais junto às
autoridades da Vila, o cansaço da viagem fez com que ele
dispensasse até mesmo os discursos políticos e somente
a Imperatriz receberia como homenagem um ramalhete de flores.
A
casa preparada para hospedar D. Pedro 11 era uma das poucas habitações
de alvenaria de Dois Córregos, e ainda existe na Rua 15 de
Novembro, nº. 68. Em seu trajeto estavam muitas crianças,
que tinham ganhado cestinhas de bambu, de alças altas, cheias
de balas, na condição de bater palmas quando o Imperador
passasse.
Uma
dessas crianças era Armira de Andrade Leite (14), que nos
prestou este depoimento, Mas D. Pedro 11 resolveu seguir direto
para a fazenda Banharão, procurando certamente abreviar a
visita, pois tinha de passar por outras localidades paulistas. O
jornal "O Combate", de Dois Córregos (anos de 1897
e 1898), faria, onze anos depois, comentários sobre essa
breve passagem de D. Pedro 11 em Dois Córregos. E o Imperador
foi para a fazenda Banharão usando como transporte uma caleche
emprestada do fazendeiro jauense Germano José Coelho, proprietário
da fazenda Nova Lusitânia.
As
fazendas Banharão e Três Barras, naquele tempo, formavam
uma sô propriedade, dos irmãos Antônio Augusto
de Almeida Cardia (casado com Ana Cardia) e José Emídio
de Almeida Cardia (casado com Carolina Augusta do Amaral Cardia).
Foi dividida em 1891, depois da morte de José Emídio,
ficando sua viúva, Dona Carolina, com a parte denominada
Banharão, e Antônio Augusto com o setor Três
Barras(l5). A casa do setor Banharão foi preparada com grande
antecedência para receber o casal real. Para a Inglaterra
foram enviadas madeiras-de-lei, onde se confeccionaram as tábuas
do assoalho da sala, feitas no sistema macho e fêmea, desconhecido
no Brasil; e artesãos ingleses vieram realizar o trabalho
de colocação. As paredes internas
(14)
- Armira de Andrade Leite, mais conhecida como Vó Armira.
Nasceu em Dois Córregos em 1871, tendo falecido em 1976,
(15)
- Verificar o levantamento cartorário contido no capitulo
'Terras posseadas por tenente Lopes e sua gente' neste livro receberam
afrescos de pintores europeus; e as portas, janelas e caixilhos,
eram de pinho de figa português. Também de Portugal
era a porcelana da pia do lavatório; e uma banheira de cimento
queimado foi feita para os banhos do Imperador.
Na
fazenda Banharão, D. Pedro 11 plantou uma muda de palmeira
real cultivada desde 17 de janeiro de 1879; tinha mais de 7 anos
de existência ao ser ali replantada. Chegou a crescer 50 metros
de altura e a ter 1,20 m. de espessura no tronco, mas terminou morrendo
em 1968. Outra palmeira como essa foi plantada pelo Imperador no
setor Três Barras.
Como
forma de retribuir o seu anfitrião, D. Pedro concedeu a José
Emidio de Almeida Cardia o título de Barão de Avanhandava,
titulado por Decreto de 25 de setembro de 1889. Mas como José
Emidio viveu poucos anos, quem de fato usufruiu dessa titulação
foi a sua viúva, a Baronesa Carolina, da família Amaral
Gurgel.
A
casa sede da fazenda Banharão, que recebeu o Imperador D.
Pedro lI. Propriedade da Sra. Nilza Teixeira Dahás de Carvalho.
Foto tirada em 1990, antes de algumas reformas já efetuadas
ASPECTO
DAS PAREDES DA SALA DE VISITAS
Antônio
Augusto de Almeida Cardia foi agraciado com o título de Comendador,
sendo que sua esposa, Dona Ana, não pôde participar
das festividades, por estar grávida e esperando o nascimento
de seu filho Antônio Cardia Junior (16), mais conhecido como
"Totó", que, já nonagenário, redigiu
seu depoimento sobre a visita do Imperador.
D. Pedro 11 pousou somente uma noite na fazenda. No dia seguinte,
ele e a Imperatriz foram conduzidos ao lado esquerdo do rio Tietê,
para o Porto Araquára, onde desaguava o ribeirão Araquára,
em área hoje coberta pelas águas da represa de Barra
Bonita. Segundo disse "Totó" Cardia, o Araquá
nem podia ser chamado de porto: ali existia somente um casarão
de madeira erguido na beira do rio sobre "pés direitos
de uns três metros de altura". No porto Araquára
um vapor da Companhia Fluvial Paulista
(16) . Antônio Cardia Júnior. Depoimento através
de lima carta enviada ao Dr. Milton Teixeira datada de 22 de setembro
de 1976.
esperava pela chegada de D. Pedro 11 e esposa, para levá-Ios
ao Porto João Alfredo, próximo da barra do rio Piracicaba.
E desse último porto o casal imperial embarcou na Estação
ferroviária da Sorocabana, seguindo para S. Paulo.
SALTO
D. PEDRO II - FOTO DA DÉCADA DE 1960
A
praça D. Pedro 11 (nome indicado pelo vereador Luiz Scaglione
e aprovado pela Câmara na sessão de 02-03-1926), é
uma homenagem a lembrar continuamente a visita real, o mesmo se
podendo dizer do salto D. Pedro 11, localizado em área urbana
cortada pelo ribeirão São João.
A
ESTRADA DE FERRO EM 1886
Em
29 de julho de 1880. época em que o ponto final da estrada
de ferro, mais próximo desta região, era Rio Claro,
o Governo publicou edital abrindo concorrência para a construção
dos trechos Rio Claro! Araraquara, Rio Claro Carlos e Rio Claro
/ Brotas / Dois Córregos / Mineiros / Jaú.
Os
vencedores da concorrência transferiram sua concessão
ao Barão do Pinhal, que, juntamente com o capitalista Benedicto
Antonio da Silva, fundaram a Cia. Rio Claro (estatutos aprovados
pelo Decreto 8.638, de 12 de agosto de 1882), dando logo início
ao empreendimento.
O Barão do Pinhal, depois Conde do mesmo título, possuía
terras em Jaú, o que o animava a construir a ferrovia, além
de ser um homem bastante dinâmico: foi um dos fundadores do
Banco São Paulo, costumava prestar auxílio a entidades
assistenciais e foi também o pioneiro do trabalho livre no
campo, através da criação de colônias
de imigrantes alemães. Sem contar que, durante a Guerra do
Paraguai, a garantia de suprimentos aos combatentes brasileiros,
a ele se deveu. E graças ao Barão do Pinhal. devido
a seu zelo “os custos da ferrovia foram considerados extremamente
baixos na época”.
Quando
os trilhos chegaram a Mineiros, a Estação foi demarcada
em local distante alguns quilômetros da povoação,
segundo depoimento de "Totó" Cardia. Esse fato
causou revolta entre os moradores de Mineiros, que se reuniram e,
munidos de alavancas e outros apetrechos, marcharam para onde aconteciam
as obras, arrancando trilhos já assentados. Esses distúrbios
obrigaram a Companhia Rio Claro a mudar o traçado, construindo
então a Estação bem próxima do povoado.
A
Estação de Mineiros foi inaugurada em outubro ou novembro
de 1886, segundo Pedro Calmon (l7) (em seu livro "História
de D. Pedro 11", ele conta que o Imperador, durante esses meses,
esteve no interior do Estado de São Paulo, inaugurando obras
ferroviárias). E também Rubem Cione (18), no livro
"História de Ribeirão Preto", assinala a
visita de D. Pedro 11 a Ribeirão Preto igualmente em 1886.
Além do mais, tendo sido a Estação de Jaú
inaugurada em 19 de fevereiro de 1887, a de Mineiros só poderia
ter sido antes dessa data, e depois da de Dois Córregos (inaugurada
em 07/09/1886).
A
vinda de D. Pedro 11, acompanhado da Imperatriz Dona Tereza Cristina,
deveu-se ao fato de que a estação de Mineiros, em
homenagem ao Imperador, passaria a se chamar Estação
D. Pedro U. Mas o bairro sempre manteve a sua denominação
antiga, valendo aquela denominação só para
a Estação.
Por
escritura pública DC (30 de setembro de 1889, a Companhia
foi vendida, passando a se chamar “The Rio Claro São
Paulo Railway Company”, com sede em Londres). E nas caldeiras
das máquinas ardia o carvão mineral importado da Inglaterra,
prática comum no início das ferrovias brasileiras.
Em
26 de março de 1892 essa última empresa foi adquirida
pela Companhia Paulista, que promoveu a ampliação
da rede em direção ao oeste. Desse modo, no final
do século XIX se iniciou a construção de um
ramal que alcançasse Bauru, denominado "Ramal dos Agudos";
ele partia de Dois Córregos e em 1900 já chegava a
Campos Salles.
(17)
“Pedro Calmon”. "História de D. Pedro 11",
Rio de Janeiro. S tomos.
(18)
Rubem Cione. "História de Ribeirão Preto",
e Editora 'MAG (Matio-SP). 2a. ediçio. Vai. I. 1989. Pisina
191 Ramal da Oa. Rio Claro, a primeira ferrovia a passar por Mineiros
Em sua passagem por Mineiros do Tietê, foi criada a Estação
de Saldanha Marinho, em homenagem àquele que fundou a Cia.
Paulista de Estradas de Ferro, e a Estação Falcão
Filho, também homenageando a outro dos que batalharam, juntamente
com Saldanha Marinho, pela fundação dessa ferrovia.
Dessa maneira Mineiros ficava suficientemente servida de meios de
transporte para escoar sua produção cafeeira:
Café despachado por estações, em 1900
Mineiros..
. . .. . . . . . . . . . . .. . .... . 5.320 sacas
Saldanha Marinho. . . . ................... 6.872 sacas
Falcão Filho. . . . . . . . . . . . . . . . . ..10.661 sacas
Sacas Capim Fino......................... 24.180sacas
Porto Maurício Machado. . . . . ......17.343 sacas
Sacas Banharão............................. 18.604sacas
Em 15 de agosto de 1929, seria inaugurada a Cia. Estrada de Ferro
Barra Bonita, que ligaria aquela cidade à Estação
de Campos Salles, além de ter uma ponta de trilho servindo
ao Barreirinho, saída igualmente de Campos Salles.
E
em 30 de março de 1941, a Cia. Paulista inaugurou um novo
trecho que ligava Mineiros ao Capim Fino, com 6.800 metros de extensão.
Essa obra havia sido iniciada no final de 1939, tendo sido utilizadas
as seguintes matérias primas: 68.515 m/3 de terra, 11.037
m/3 de piçarra, além de 6.794 m/3 de pedra solta,
3.074 mJ3 de rocha mole e outros materiais. Entre as consideradas
obras de arte, foram feitas 6 passagens inferiores, 21 bueiros de
0,60 cm. de diâmetro, 2 bueiros do tipo Romano, 2 passagens
superiores de 4 metros e assentamento de linha telegráfica.
LINHA
PONTILHADA: ESTARADA EM CONSTRUÇÃO DESDE 1900
Com
a inauguração do trono Mineiro / Capim Fino, em março
de 1941, ficou sendo este o traçado do “ramal dos Agudos”,
permanecendo ainda a ligação com Jaú.
A
"Maria Fumaça" do início da ferrovia, nesta
região. A máquina que ia de ltirapina a Jaú,
passando por Mineiros, tinha como maquinista o senhor Agípio
dos Santos, funcionário que trabalhou durante 50 anos na
Companhia Paulista.
A
ligação de Mineiros a Capim Fino, provocou a desativação
da Estação de Saldanha Marinho, um local de difícil
manobra para as máquinas. Mas em 15 de novembro de 1941,
quando a bitola larga que vinha de Itirapina, sem passar em Mineiros,
chegou a Jaú, o trecho que ligava Mineiros a Jaú foi
desativado. Na verdade era um rama ultrapassado; como se não
bastasse sua bitola estreita, também não possuía
desvios para manobras em Jaú, tanto que a máquina
tinha de partir em ré de Dois Córregos, empurrando
o comboio e passando nessa posição em Mineiros; a
Maria Fumaça, portanto, só andava para a frente, puxando
a composição, quando retomava de Jaú.
Quando
a bitola larga da Cia. Paulista atingiu Bauru, o ramal Dois Córregos/Mineiros/Capim
fino/Falcão Filho/Campos Salles/Barra Bonita/Barreirinho,
que ligava Campos Salles a Bauru, foi desativado. Mineiros do Tietê,
desse modo, perdeu sua derradeira estrada de ferro.
E
então, no dia 31 de agosto de 1966, a "Maria Fumaça",
fez sua última viagem, resfolegando em sua passagem por Mineiros
do Tietê e seguindo para estacionar na história. No
dia seguinte os jornais da Capital publicavam a única explicação
das autoridades, justificando a morte do trecho: um ramal deficitário
e de bitola estreita. Estação de Mineiros, desativada.
A
FAZENDA BANHARÃO, RETRATO DE UMA ÉPOCA
A
Fazenda Banharão simboliza muito bem a fase brasileira em
que o café era nosso maior produto de exportação,
fazendo surgir os chamados "barões do café",
com suas fazendas suntuosas (a fazenda Retiro em Dois Córregos
possuía banda de música, e a fazenda Independência
em Jaú tinha barbeiro, lojas, telefone, promovia bailes carnavalescos,
contando, portanto com melhoramentos que lhe davam um "status"
equivalente ao de uma pequena cidade). Os donos dessas fazendas
conseguiam influência política incomum, e os Cardia
são um claro exemplo: receberam o Imperador e foram agraciados
com títulos honoríficos.
Se
naqueles tempos o produto importado, principalmente o europeu, era
sinônimo de poder e bom gosto, devemos considerar que nesse
ponto o Brasil ainda não mudou. Mas a ausência das
atuais sobretaxas facilitava, anteriormente, as importações,
proporcionando luxo e ostentação aos grandes fazendeiros.
Na fazenda Banharão, a começar pelas grades do terraço
externo, vieram da Europa; o terreiro de café, com área
de um alqueire, era asfaltado com o asfalto vindo em barricas Inglaterra;
a cocheira tinha aproximadamente 100 m. de comprimento.
por 20 m. de largura, e seu telhado era de telhas provenientes de
Marselha, na França (a olaria que as produziu tinha o timbre
"Laut Ethienere"). Atualmente os proprietários
estão providenciando nova cobertura para a cocheira, devido
ao péssimo estado das telhas.
A
casa sede tem 22 cômodos e somente a sala de jantar mede 15
metros por 8 de largura. Os alicerces, na largura de 80 centímetros,
foram feitos de pedras lavradas por escravos, tendo a altura de
3 metros até ao teto do porão - onde funcionava a
prisão de escravos, pois nas paredes existiam argolas e correntes
hoje desaparecidas.
A
fazenda, situada no bairro de Capim Fino, era imensa, chegando a
possuir cerca de 1.500.000 cafeeiros. As bicas para a lavagem do
café são feitas de pedras de tamanhos descomunais,
e para que o produto chegasse às tulhas, estabeleceu-se um
sistema de vagonetes basculantes com capacidade de 20 sacas cada
uma, correndo sobre trilhos importados, “que nada mais eram
do que uma estrada de ferro em miniatura com.seus desvios e chaves
de mudança de linha; (19)”.
A
casa da Máquina de Benefício de Café, com cerca
de 80 m. de comprimento por 20 de largura, fazia o trabalho de beneficiamento
do produto por caldeira a vapor, sendo substituída em 1920
por uma máquina norte-americana, com motor de 20 H.P. Possuía
ainda a fazenda, energia elétrica e telefone.
A
cocheira e os chiqueiros de porcos, construídos com pisos
acimentados, noções modernas de higiene e sistemas
de divisões de uma atualidade notável, demonstram
bem o nível administrativo dos Cardia.
A,
exemplo da casa sede, a colônia, somando dois grupos de casas
geminadas que davam um total de 68 moradias, tinha água encanada
e sanitários. Havia ainda várias casas próximas
da sede para auxiliares diretos como administradores, apontadores,
fiscais, etc. Todas essas residências possuíam pára-raios
com ponta de platina.
A
extensão da paisagem que se enxerga do terraço é
privilegiada, alcançando as águas do Tietê e
os vários acidentes geográficos do vale.
HISTÓRIAS
DO BANHARÃO E DOS CARDIA
Os
irmãos José Emídio e Antônio Augusto
de Almeida Cardia, donos das terras de Banharão e Três
Barras, antes uma única propriedade, eram parentes por descendência
de Antônio Antunes Cardia, morador de Porto Feliz, que em
18 de março de
(19)
– Dados utilizados do livreto “Banharão “edição
artesanal e limitada, sem data ou autoria publicada pelos irmãos
Teixeira”.
Em
1801 conseguiu do Governo uma sesmaria (20) na margem direita do
Tietê, sesmaria que viria a ser, mais tarde, as fazendas Banharão
e Três Barras. Essa sesmaria media "égoa de terra
de testada com 2 de sertão" e se localizava no "Ribeirão
dos Lençóis que faz barra no Rio Tietê".
Esse ribeirão nada tem a ver com o rio Lençóis,
afluente da margem esquerda do Tietê; é também
citado como linha divisória da sesmaria de Joaquim Antonio
de Arruda, sendo, portanto um dos ribeirões que correm em
Mineiros do Tietê: ribeirão Três Barras.
Já quanto ao nome Banharão, é de origem tupi:
Bae (coisa) Nharon (brava).
Unindo os dois termos, teremos a palavra "baenharon",
aportumesada para banharão. O pesquisador paulista Francisco
José de Lacerda e Almeida 1), ao descer o rio Tietê
em 1788, fez anotações em seu Diário sobre
a tradição dessa denominação. Ela surgiu
quando, durante uma certa monção anterior, um animal
ou peixe de grande porte saltou nas águas, provocando muitas
ondas. Sem conseguir identificar o animal, os tupis, que acompanhavam
os bandeirantes e que a tudo costumavam nomear em sua língua,
exclamaram a palavra "baenharon" (coisa brava), que depois
passou a designar um certo poço nas imediações,
uma corredeira e mais abaixo as terras do Banharão. Essa
palavra é hoje bastante usada porque se refere ao conhecido
bairro do Banharão (pertencente a Jaú), que por ironia
fica afastado do Tietê. O bairro' do Banharão perdeu,
portanto, a tradição aquática que o ligava
ao rio Tietê, tendo agora que se contentar com as águas
magras do rio Jaú, quase um ribeirão.
Uma
outra história de tradição oral, envolta em
lendas e desse modo não muito digna de crédito, é
aquela que se refere à visita de D. Pedro 11 aos Cardia.
Diz ela que Antônio Augusto seria amasiado com uma negra,
o que o obrigou a esconder o fato durante a visita do Imperador,
contratando para fazer as honras da casa de sua, parente Dona Carolina,
qual se fosse essa dama a sua verdadeira esposa. E ela teria representado
tão bem o papel de anfitriã, que receberia de D. Pedro
11 o titulo de Baronesa.
Mas
o levantamento cartorário da fazenda Banharão nos
mostra que Dona Ana era realmente casada com Antônio Augusto;
e também o Decreto de 25 de setembro de 1889, concedeu o
titulo de Barão de Avanhandava a José Emílio,
e não a Dona Carolina, informação essa que
pode ser confirmada na enciclopédia Delta Larousse. São
provas, portanto, bastante suficientes para desmificar à
lenda.
ANTECEDENTES
DA EMANCIPAÇÃO POLÍTICA
Durante
a ultima década do século, a vila ou município
de Dois Córregos sofreu as conseqüências de duas
epidemias que praticamente imobilizaram seus governantes,
(20).
Livro ele Sesmarias, 'Patente Provisões, nº. 40. Folha.
27 - verso. 28 e 28- verso
(21) Francisco José de Lacerda e Almeida.
“Dario de Navegações’ Opúsculo
já mencionado”.
Obrigados
que foram a destinar todos os seus esforços, bem como a renda
municipal, para o setor de saúde pública.
Primeiramente,
em 1892, estourou Dois Córregos a epidemia da bexiga (varíola),
deixando a povoação vazia. Seus moradores procuravam
fugir para a zona rural ou para a casa de parentes em cidades vizinhas,
para escapar da morte.
Quando
as finanças do Município já se recuperavam
da epidemia da bexiga, veio, em 1896, a epidemia da febre amarela,
durando até junho do ano seguinte. Novamente os moradores
tiveram de fugir da povoação, mas mesmo assim foram
computados 128 mortos.
Durante
esse período negro da vida de Dois Córregos, o distrito
de Mineiros não deixaria de so&er os reflexos da falta
de dinheiro. Tanto que, durante a epidemia da febre amarela, a única
obra pública realizada pela Intendência dois-correguense,
foi um chiqueiro de porco no matadouro de Mineiros, enquanto em
Dois córregos estava lisado, com os vereadores se reunindo
às escondidas num sítio, de medo da epidemia.
A
população de Mineiros, por outro lado, aumentava sensivelmente.
Ali não houve epidemia e por ocasião da febre amarela
foram transferidos provisoriamente para o distrito, mineiros tieteense,
o Foro da Comarca, o cartório, a Inspetoria Escolar e a agência
consular italiana.
A
presença do Juiz de Direito, Dr. Affonso Eugênio Joly,
em Mineiros, certamente deu força ao movimento de emancipação
política mineirense. Esse Juiz tinha muitos adversários
políticos em Dois Cônegos, por ser adepto da monarquia,
e lá ele era atacado sistematicamente pelos republicanos
no jornal "O Combate", de penetração estadual,
que tinha como proprietário o Cel. Ernesto Leão Brasil.
Tanto que o Dr. Joly acabou sendo transferido da Comarca em 1897.
E após sua saída o jornal continuou acusando-o de
conspirar contra Dois Córregos, dando a entender que tal
traição se referia à emancipação
de Mineiros.
Outro
fato também facilitaria o movimento de emancipação:
os condôminos da fazenda Mineiros, cujas partes atingiam a
área urbanizada, mas que ainda não tinham doado terras
para a formação do patrimônio da Paróquia,
finalmente fizeram as doações, em 1896, estabelecendo
assim os limites da povoação urbana e facilitando
a elevação a Município.
Além
do mais, devido às epidemias, a população de
Mineiros era superior à de Dois Cônegos - um forte
argumento para a emancipação. Muito embora mais tarde
Dois Córregos retomasse a sua superioridade populacional
sobre Mineiros, mas então a separação política
já se efetivara.
Dois
passos anteriores também devem ser levados em conta: primeiro,
a criação da subdelegacia de Mineiros, em 8 de fevereiro
de 1890, que estabeleceu as divisas mineirenses:
"Começarão no Ribeirão do Gavião,
no ponto em que o município de Dois Córregos divide
com o de Jaú, seguem ribeirão acima até o córrego
de José Lopes, sobe por este até a estrada de rodagem
que vem de Dois Córregos; daí, em linha reta 1 serra
de água do Hilário"; desta também à
cima procurando a cabeceira da água da fazenda do Dr.Cintra,
e por esta água abaixo até o rio Tietê, daí
em diante pela divisa entre. Dois Córregos, até o
ponto de partida destas divisas".
Em
17 de janeiro de 1891. foi criado o Distrito de Paz, subordinado
a Dois Córregos, utilizando as mesmas divisas estabelecidas
durante a criação da subdelegacia. Em 29 de agosto
de 1898. através da Lei n° 581, Mineiros seria elevada
à categoria de Município, sob a jurisdição
da Comarca de Dois Córregos.
A
Paróquia seria criada em 04 de dezembro de 1910 e instalada
em 08 de janeiro de 1911. tendo como primeiro pároco o padre
Luiz Priulli. Após plebiscito para a mudança de nome
do Município. já que havia outra cidade com o nome
de Mineiros. em Goiás, o Decreto 14.334. de 30 de novembro
de 1944, autorizou a modificação, passando então
este Município a se chamar Mineiros do Tietê. E em
28 de outubro de 1969, através do Decreto-Lei 158. Mineiros
passaria a ficar sob a jurisdição da Comarca de Jaú.
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