RIBEIRÃO
SÃO JOÃO, DEPOIS SÃO JOÃO
(Em
terras hoje de Jaú, Dois Córregos e Mineiros do Tietê).
Pertenceu, como primeiro posseiro, ao tenente Manoel Joaquim Lopes,
que a registrou em 1855 com o nome de Ribeirão São
João. Por sua morte e de sua mulher, Úrsula Pedroso
Rangel, foi partilhada entre os herdeiros Francisco Xavier Lopes,
Ana Maria Rangel, Maria Jacinta Lopes, Maria Antonia de Oliveira,
Joaquim Lopes de Oliveira, João Ventura Lopes de Oliveira,
Bárbara Marcolina de Jesus, Bonifácio Balbino de Jesus,
Ana Joaquina de Jesus, Maria de Tal e Jacinta Hermenegildo Céu.
Posteriormente, passou para descendentes e representantes de outras,
entre os quais Camargo de Freitas, Arruda Nogueira, Alves de Lima,
Matozinhos, Gomes, Ribeiro, Barreto, Maciel, etc, num total de 70
condôminos, em 1893. Confrontava com terras de Manuel Alves
Ribeiro, Manuel Martins Claro, fazenda Jacutinga e com outros.
PALMITAL
Pertenceu
a Diogo Francisco de Lacerda e sua mulher Joaquina Maria da Cruz,
os quais em 1863 venderam uma parte a Maria Cândida de Lima,
e mais tarde, em 1895, outra parte à mesma compradora. Confrontava
com terras de Francisca Maria de Jesus, coronel Flamínio
Ferreira de Camargo, Antônio Fernandes Negrão e com
outros. Fazia-se referência aos Córregos Taquaral e
Palmital.
PEDRA
BRANCA
(Fazenda
hoje em terras de Mineiros e Dois Córregos).
Pertenceu
a João da Costa e Silva e sua mulher dona Maria Eufrosina
Alves, tendo sido objeto de escritura de hipoteca, em 1883, em favor
do Banco de Crédito Real de São Paulo. Confrontava
então com terras de Francisco Lucindo da Silva Brasa. José
Balduíno de Meio Castanho Sobrinho, José Venâncio
de Souza e José Antônio Barbosa. Possuía 13
escravos. No ano de 1886 uma parte da fazenda passou por compra
para Inácio Maranhão da Rocha Vieira (casado com dona
Hermínia C. Maranhão), os quais a deram em 1887 em
garantia hipotecária ao banco acima citado. A parte hipotecada
por terras de João E. Dias Aranha, Benjamim Frank1in Rocha
Vieira, Miguel e Pedro Pinto e com outros (caía em terras
hoje de Mineiros do Tietê). Essa gleba foi anexada a várias
outras, adquiridas por Inácio Maranhão a José
Porfírio Bueno Brandão (casado com Ana Ernestina Campos
Brandão) e a Balduína Branca, em 1885; e a José
Venâncio de Souza (casado com Maria das Dores de Jesus), em
1886. Em 1891, ao ser, penhorada e, posta em arrematação,
confrontava com terras de José Antônio Barbosa, João
Dias Aranha, Estanislau Amaral Campos, João Costa e Silva,
com herdeiros de Antônio do Amaral Abreu e com terras dos
executados: Rocha Vieira e filhos.
SALTINHO
Pertenceu
a Francisco de Pauta Cruz (casado com Francisca Augusta Machado
Cruz) e Luís Antônio de Oliveira Cruz (casado com Guilhermina
Machado Cruz), os quais a deram em garantia hipotecária,
em 1884, ao Banco de Crédito Real de São Paulo. Confrontava
com terras de Delfino Pinheiro Ulhoa Cintra, Odorico Ferreira Camargo
e Floriano Camargo Serra. Possuía 33 escravos. Em 1890 Francisco
de Paula Cruz e sua mulher venderam (parte ou total, já que
eram os 6nicos proprietários) a Miguel de Godoy Moreira e
Costa e ao Capitão Antônio Amador Bueno de Godoy. Dos
confrontantes, apenas Floriano de Camargo Serra havia sido substituído
pelos irmãos Antônio Augusto e José de Almeida
Cardia (Banharão e Três Barras). Água Vermelha
ou Barra do Ribeirão dos Mineiros (Fazenda hoje em terras
de Mineiros do Tietê e Barra Bonita).
Pertenceu
por posse a Benedito da Silva Leite e sua mulher Maria Rosa, que
a venderam em 1850 a Vicente Dias de Oliveira Bastos, sendo por
este registrada em 1856. Por falecimento de Vicente Dias em 1874
e de sua mulher, passou para os filhos Simeão, Ana, José,
Maria, Moisés e Francisco. Em 1876 Moisés Ferreira
Bastos e sua mulher; Joaquim Antônio Beraldo e sua mulher
Tereza Bastos, venderam as duas partes que possuíam na fazenda
a João da Costa e Silva e este as transferiu, em 1891, a
Jesuíno Rodrigues de Camargo e sua mulher Ana Maria de Jesus.
Por morte desta as duas partes referidas foram partilhadas pelo
viúvo e filhos, entre os quais José Rodrigues de Camargo,
que vendeu sua quota em 1893 a José Antônio Dias. Outras
partes do imóvel tiveram destino semelhante, mas a comunhão
se ampliou. Confrontava com as terras de Pedro da Cruz, Francisco
Sampaio, Antônio Garcia, João Vieira e com o rio Tietê.
FAZENDA
JACUTINGA OU DAS PALMEIRAS
(Em
terras hoje pertencentes a Mineiros do Tietê e Jaú)
Confrontava
com terras de Bento Manoel de Moraes Navarro (fazenda Monte Alegre,
em Jaú), tenente Manoel Joaquim Lopes (fazenda Ribeirão
São João), José Claro Henrique de Carvalho
(fazenda Graminha) e outros. Citava-se o c6rrego do Jacutinga, e
a estrada que saindo do Porto Lenç6is (margem direita do
rio Tietê, defronte à foz do rio Lenç6is) passava
por essa fazenda, seguindo até à barra do ribeirão
Gavião, afluente do ribeirão São João.
Pertenceu mais recentemente aofie1 protestante Silvério Saturnino
Ferreira Coutinho, vindo de Brotas.
Conforme
registros históricos alheios aos assentos cartorários,
em 21 de março de 1875 foram inaugurados, na fazenda Jacutinga,
um templo da Igreja Presbiteriana, freqüentado por moradores
de Dois Córregos. A primeira missa foi oficiada naquela data
pelo Rev. João Femandes Dágama, português de
nascimento, na casa de Desidério de Aquino, que ficava dentro
das terras de Coutinho.
DUAS
HISTÓRIAS DE TRADIÇÃO ORAL
A
PRIMEIRA CAPELA
A
primeira capela de Mineiros, conforme relato de Alice Dias de Almeida
Lima, foi construído antes da capela de Jaú, por ordem
do tenente Manoel Joaquim Lopes e nas terras dele, na fazenda chamada
Mineiros. Tenente Lopes, pelo menos uma vez por semana, vinha a
Mineiros para rever os amigos e visitar a capela, pois morava no
lado jauense da fazenda São João, também de
sua propriedade. Mas de manhã, durante sua vinda a Mineiros,
tinha de caminhar no rumo leste e então o sol nascente incomodava
seus olhos durante o tempo todo.
O mesmo acontecia no período da tarde quando retornava à
fazenda São João: tendo de seguir na direção
oeste, o sol poente atingia seu rosto de frente, transformando numa
viagem penosa aquele que deveria ser um tranqüilo passeio.
Esse foi um dos motivos que levaram o tenente Lopes a liderar o
movimento pela fundação da capela de Jaú, que
teria ainda a vantagem de ficar mais próxima da sede da fazenda
São João, onde ele morava. Na parte da manhã,
quando seguisse para oeste, em sua ida à capela de Jaú,
o sol não mais o pegaria de frente, e também durante
a tarde, quando retornasse à fazenda, deixaria o sol poente
para trás (chamamos de capela ao simples oratório,
sem provisão da Igreja).
Depois
da fundação da capela jauense, as viagens do tenente
a Mineiros diminuíram bastante; e então os mineirenses
costumavam dizer, em tom de piada, que o tenente Lopes tinha trocado
o sol na cara pelo sol no cangote. (A expressão "sol
no cangote" quer dizer "sol nas costas", no linguajar
caboclo).
O
ALISTAMENTO PARA A GUERRA DO PARAGUAI (1864 a 1870)
O
local onde hoje fica o Cemitério Municipal, era a beirada
de uma grande
floresta; ali os mais moços se escondiam para fugir do alistamento
militar. Na margem do mato ficavam os velhos para dar ó aviso,
acaso chegassem os soldados do Império. Esses soldados percorriam
povoações e fazendas, recrutando os "voluntários
da pátria" que eram obrigados a se alistar, com pena
de serem fuzilados.
Certa
vez os soldados deram um rapaz na beira do mato. Como ele não
quisesse ir para a guerra, foi morto a tiros. Depois os soldados
colocaram seu corpo sentado sobre um cavalo e saíram desfilando
com ele, para que servisse de exemplo àqueles que fugiam
do alistamento. Mas o corpo do rapaz de certo viajou tombando sobre
os capinzais, pois, ao passar em Dois Córregos, seus cabelos
já estavam cheios de carrapichos.
NAVEGAÇÃO
COMERCIAL DOS RIOS TIETÊ E PIRACICABA
Antes
da construção da ferrovia, os produtores de café
de Mineiros do Tietê, assim como os demais desta região,
não podiam plantar em alta escala, pois não havia
como escoar o resultado das safras. O café há muito
tempo já era o maior produto brasileiro de exportação,
enriquecendo os fazendeiros do Vale do Paraíba, Campinas
e outros centros, mas os mineirenses estavam deixando de ganhar
dinheiro com ele, já que também faltava mão-de-obra
(outro problema que o progresso ferroviário resolveria, ao
atrair a massa de imigrantes estrangeiros para áreas de café
servidas pela linha férrea), sendo a cultura cafeeira a que
utilizava maior n6mero de trabalhadores.
Sem
linha férrea, os produtores desta região se defendiam
transportando as suas poucas sacas em tropas de animal um transporte
para pequenas produções, levando o café até
a estação de Campinas, inaugurada em 11 de agosto
de 1872. Depois veio a navegação através da
Companhia Fluvial Paulista, ligando Piracicaba ao Porto Lençóis
(defronte à barra do rio Lençóis, no Tietê),
criada pelo Decreto Imperial 5.405, de 17 de setembro de 1873. Mas
como Piracicaba também não possuía estação
ferroviária, pouco adiantou. Os cafeicultores desta região
continuaram usando a estação de Campinas e, a partir
de 1876, a estação de Rio Claro para enviar o café
ao mercado exportador de Santos.
Com
a chegada dos trilhos da ferrovia a Piracicaba, em 1879, os 5 vapores
e 24 lanchas da Companhia Fluvial Paulista passaram a receber uma
grande quantidade de café, muito embora a navegação
fluvial ainda não fosse o transporte ideal: na época
das secas o leito do rio Piracicaba abaixava e os barcos encalhavam,
não conseguindo passar.
A
Companhia Fluvial Paulista era sediada em Piracicaba, de propriedade
do Senador Francisco Antonio de Souza Queiroz e de seu sócio
João Luiz Germano Bruhins. Em 1886 a " Cia. Ituana,
nova proprietária, estendeu a navegação até
o salto de Avanhandava, apesar da difícil corredeira de Pederneiras,
mas nesse mesmo ano chegaram os trilhos nesta região.
DOAÇÕES
PARA A FORMAÇÃO DO PATRIMÔNIO
Os
22 alqueires que formaram o patrimônio da "Capela do
Senhor Bom Jesus de Mineiros", foram doados através
de 17 escrituras particulares (12) passadas a favor da Igreja Católica.
As
terras a que se referem essas escrituras de doação
saíram todas daquela fazenda que antigamente se denominava
"Mineiros" (ou "Ribeirão Silvério",
ou ainda "Ribeirão São João"), cujo
primeiro posseiro foi o tenente Manoel Joaquim Lopes. Os doadores
eram, portanto, sucessores do tenente Lopes naquela propriedade.
A presença de tantos doadores de terras se explica pelo fato
de serem eles donos de áreas da mesma fazenda. E como a Igreja
fez parte do Estado até 1890, à doação
de uma pequena fatia à Igreja, dava ao doador o direito a
uma cópia da escritura de doação um documento
importante no caso de futuras demandas judiciais.
Os
4 primeiros alqueires foram doados por Vicente Valério dos
Santos, através de duas escrituras passadas em Dois Córregos.
Já as demais foram lavradas em Mineiros do Tietê. Essas
doações foram feitas em épocas diferentes,
dividindo-se em três fases distintas. Na primeira fase Vicente
Valério dos Santos doou seus 4 alqueires por iniciativa própria,
em 1884. Na segunda fase, no ano de 1887, já se percebe que
outros sucessores da fazenda Mineiros resolveram acompanhar o raciocínio
de Vicente Valério dos Santos, e essa iniciativa foi bem
sucedida, pois nesse mesmo ano a Igreja provisionou a construção
da capela matriz, primeiro passo para a criação da
Paróquia. Mas a última fase de doações
deve ser tida como cívica; nela outros sucessores da fazenda
também doaram terras, completando a quantia mínima
de alqueires exigida pela Igreja (em tomo de vinte), delimitando,
assim, a área urbana e tomudo viável a elevação
a Município e a criação da Paróquia.
1ºFASE,
ANO DE 1884
Vicente
Valério dos Santos, em 18 de maio de 1884 - 2 alqueires.
Vicente Valério dos Santos, em 18 de maio de 1884 - mais
2 alqueires. 2 fase do ano 1887
Fernando
Antonio de Oliveira e sua mulher Anna Luiza de Oliveira, em 11 de
janeiro de 1887 - 2 alqueires.
José Joaquim e sua mulher Sabina Francisca de Paula, em 23
de julho de 1887 - 2 alqueires.
(12)
. Relação de doadores fornecida pelo Arquivo de Arquidicena
de São Paulo - SP. Gentileza do Chefe do Arquivo. historiador
Wanderley dos Santos.
Justino
Pires dos Santos e sua mulher Francisca do Carmo, em 24 de julho
de 1887 - 1 alqueire.
Manuel
Dutra Lopes e sua mulher Delfina Maria de Jesus, em
26 de julho de 1887 - 1 alqueire.
Manoel
José Pereira e sua mulher Maria Cândida de Jesus, em
2 de agosto de 1887 - 1 alqueire.
José
e sua mulher Maria Joaquina da Conceição, em 3 de
agosto de 1887 - 1 alqueire.
31º FASE - ANO DE 1896
Tenente JOSÉ VALENTIM BORGES e sua mulher THEREZA FERNANDES
NEGRÃO, em 1 de fevereiro de 1896 - 1 alqueire.
MANUEL JOAQUIM DA SILVA RAMOS e sua mulher MARIA CORR
DE JESUS, em 1 de fevereiro de 1896 - 1 alqueire.
FERNANDO JOSÉ FERREIRA e sua mulher IGNACIA MARIA DA CONCEIÇÃO,
em 1 de fevereiro de 1896 - 1 alqueire.
JOAQUIM GOMES DE LIMA e sua mulher MARIA VICTORIA DE JESUS,
em 1 de fevereiro de 1896 - meio alqueire.
FRANCISCA MARIA DE JESUS, em 7 de fevereiro de 1896 - 2 alqueires.
Dr. DIOCLECIANO PEGADO, em 21 de fevereiro de 1896 - 1 alqueire.
LUDOVINO FERREIRA DA SILVA TERRA e sua mulher MARIA BÁRBA
RA DE OLIVEIRA TERRA, em 21 de fevereiro de 1896 - 1 alqueire.
IGNACIO MAMENDES BORGES e sua mulher MARIA DAS DORES BORGES, em
21 de fevereiro de 1896 - meio alqueire.
JOÃO FRANCISCO DE PAULA e sua mulher MARIA JOANNA DE RA
MOS, em 24 de julho de 1896 - 2 alqueires doados.
INÍCIO
DA POVOAÇÃO
Como
já dissemos anteriormente, uma igrejinha rústica servia
aos sitiantes do bairro dos Mineiros, construída dentro das
terras do tenente Lopes e por sua iniciativa. Essa informação,
colhida do depoimento de Dona Alice Dias de Almeida Lima, coincide
em princípios com a tradição oral, mineiros
tieteense, que também fala de uma capela, certamente a mesma,
erguida em louvor a Santa Cruz.
Esse
pequeno templo teria sido usado pelo padre de Brotas, até
1866, por ocasião de suas visitas. Depois disso, com a criação
do curato na vila de Dois Córregos, coube aos padres dessa
Paróquia dar atendimento a Mineiros.
O
aumento da população rural justifica o estabelecimento
comercial de José Venâncio de Azevedo (um botequim,
segundo ainda a tradição oral mineiros tieteense),
localizado em área de reuniões populares - perto do
oratório ou capela. Sendo o tenente Lopes proprietário
de milhares de alqueires, não iria se importar com algumas
poucas casas em tomo da capela, ainda que construídas irregularmente
em suas terras; como patriarca da região, por certo se orgulhava
do sucesso da igrejinha. E quanto à construção
da capela de São Benedito, ainda em terras das Fazendas de
Mineiros, devemos entender que foi obra mais recente, quando a população
aumentou e teve recursos para erguer um templo maior, que abrigasse
a todos.
Até
1890, quando a Igreja se separou do Governo, a doação
de terras ao patrimônio católico era um bom negócio
também para o doador. Mesmo que uma pessoa doasse terras
à Igreja por pura caridade, não deixaria de lucrar
com isso: receberia em troca uma escritura de doação
que praticamente o reconhecia como dono do restante da propriedade.
Se
essas poucas moradias, irregulares perante a Lei, não incomodaram
a tenente Lopes e herdeiros, o mesmo não aconteceria depois,
quando a fazenda Mineiros, já possuía novos sucessores
que passaram a ver com outros olhos a invasão. Assim os 4
alqueires doados em 1884, por Vicente Valério dos Santos,
além de abrir as portas para a legalização
do povoado que já tomava forma, ajudou igualmente o doador,
documentando-o contra a ampliação da área.
invadida (a tradição popular menciona Garibaldi di
Lona, que teria construído casas de aluguel na fazenda Mineiros;
se essas terras pertences sem de fato a esse italiano ou a outros
moradores, Vicente Valério não poderia tê-las
doado à Igreja).
Garibaldi
di Luna, considerado o patrono dos músicos mineirenses, também
residiu em Dois Córregos. O boletim "XXIX - Comarca
de Dois Córregos", publicado em 1895 pela Câmara
Municipal daquela cidade, informa que ele era empregado da Câmara,
onde exercia único cargo de Fiscal do Município (naquele
tempo as Câmaras municipais também tinham o poder executivo,
hoje a cargo das prefeituras).
O
fato de Garibaldi di Luna ter fixado residência no início
de Mineiros, não deve ser tido, porém, como um caso
único: muitos outros imigrantes aqui certamente estiveram,
apenas a história não guardou seus nomes. O sucesso
cafeeiro na região, combinado com a posterior construção
da ferrovia, atraiu uma massa de lavradores estrangeiros que aumentou
a população em geral, criando espaço para profissionais
como sapateiros, alfaiates, professores, etc., atividades que se
desenvolvem em povoações e por pessoas de hábitos
urbanos. O aumento populacional, portanto, teria forçado
o surgimento da vila, independentemente de atos ou leis oficiais.
A
própria visita de D. PedroII a Mineiros em 1886, para a inauguração
1º Estação ferroviária, já é
uma prova de que ali existia vida urbana, pois ao Imperador não
ficaria bem inaugurar uma Estação construída
no meio do mato, com o que correria o risco de ser criticado pelos
seus opositores na Corte, que eram muitos. E essa inauguração
acontecia antes mesmo de ser criado o Distrito, a demonstrar que
o povoado nascia naturalmente, em zona tida como rural.
Mesmo
a Paróquia, estava longe de ser criada, tanto que a Provisão
autorizando a construção da Igreja Matriz somente
sairia em 27 de agosto de 1887, no ano seguinte à visita
do Imperador:
"Fizemos
saber que atendendo ao que nos representarão os habitantes
do bairro denominado dos destritos da Paróquia de Dois Córregos
deste Bispado: Havemos por bem, pela presente, conceder licença,
para que no referido bairro se possa erigir e fundar uma Capela
sob a invocação do Senhor Bom Jesus, com tanto que
seja em lugar alto, livre de humidade, retirado quando possível
de lugares imundos e casas particulares, e que tenha âmbito
em roda para andarem procissões, sendo o local para tal fundação
designado pelo Reverendíssimo Parocho respectivo a que autorizamos
para benser a primeira pedra do edifício, na forma do Ritual
Romano. Na mesma Capela não se poderão celebrar os
Ofícios Divinos, sem nova Provisão precedendo informação
parochial de achar-se ella provida de paramentos, precisas e tendo
em vista a informação do Revmo. Parocho respectivo
e habilitada com o competente patrimônio..." (Livro de
Tombo do Arquivo da Mitra Arquidiocesana, São Paulo-SP, Folha
42).
Essa
provisão foi passada por D. Lino Deodato Rodrigues de Carvalho,
Bispo de S. Paulo, e incluía as doações de
terras de 1887, suficientes para se autorizar a construção
da Igreja Matriz. Muito embora essa Provisão tenha saído,
devido a um trabalho político junto às autoridades
eclesiásticas, já que a Igreja fazia parte integrante
do Estado. Tanto que a Ata da Sessão Extraordinária
da Câmara Municipal de Dois Córregos, de 8 de dezembro
de 1887, registra a irritação de um vereador dois-correguense,
contra a construção da capela de Senhor Bom Jesus:
"Foi
indicado pelo vereador Silva Terra que se faça uma representação
à Assembléia Provincial, contra a projetada criação
da Capela do Bairro dos Mineiros, visto como esta Câmara reconhece,
assim como o público quase que em sua totalidade, a inutilidade
dessa Capela..."
Podemos
ainda supor que dois motivos principais forçavam os sucessores
da fazenda Mineiros a doar terras para a formação
da Paróquia; o primeiro seria o de pressões políticas,
pois pessoas influentes da comunidade mineirense queriam o progresso
do bairro; o segundo motivo seria o interesse dos próprios
sucessores: doando à Igreja terras já tomadas, nada
perderiam com isso, além de ganhar em troca documentos oficiais
que delimitariam a área de atuação dos posseiros
urbanos.
Em
1895 seria criado o curato, mas a Paróquia somente se tornaria
viável com as doações de terras ao patrimônio
feitas em 1896. A construção demorada do prédio
da Matriz, porém, atrasou á
criação da Paróquia, que somente aconteceria
em 1910. sendo inaugurada em 1911.
A
VISITA DE D. PEDRO II A MINEIROS
D.
Pedro II veio ao "Bairro dos Mineiros" para inaugurar
a estação ferroviária local, batizada de Estação
D. Pedro II. Mas esse nome não vingou, tanto que já
no ano seguinte a Provisão autorizando a construção
da Igreja Matriz mencionava somente o "Bairro dos Mineiros",
e também o Distrito de Paz, criado em 1891, manteve o nome
tradicional de Mineiros.
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